"Mãe é amor materno, é a
minha vivência e o meu segredo. O que mais podemos dizer daquele ser humano a
que se deu o nome de mãe, sem cair no exagero, na insuficiência ou na
inadequação e mentira – poderíamos dizer – portadora casual da vivência que
encerra ela mesma e a mim, toda humanidade e até mesmo toda criatura viva, que é
e desaparece, da vivência da vida de que somos os filhos?"C.G.
JUNG
Há
casos em que o complexo materno tem uma influência velada, não sendo
caracterizados como um desvio patológico propriamente dito, sua atuação é
percebida de diversas formas e em diferentes fases da vida do homem,
atrapalhando, senão impedindo, o seu relacionamento consigo mesmo e com outras
pessoas.
O complexo materno, que é a idéia de mãe carregada de afetividade,
existe em todos nós. O experimentamos como a necessidade de carinho, proteção e
ligação. Se a experiência inicial que temos na vida, através da relação primal,
for satisfatória e atender estas necessidades sentiremos que a vida é algo bom e
que seremos amados e protegidos sempre. Se a nossa primeira experiência não foi
boa, vamos nos sentir desligados de tudo e sem raízes.
A influência mais acentuada do complexo materno não
solucionado, no homem, é a dificuldade que este encontra em relacionar-se com
sua anima.
A anima é o arquétipo do relacionamento interno, ou seja, é
responsável pelo contato do ego com o mundo interno e a qualidade deste contato
determinará qual vai ser a qualidade do relacionamento do homem com o mundo
externo, com as outras pessoas. É também, o arquétipo que representa o lado
feminino no homem mas sua a principal função, segundo Jung, é a de instrumentar
o homem, quando reconhecida, para seu autoconhecimento conduzindo-o no seu
inconsciente, promovendo a relação entre seu ego e seu mundo interno. Portanto,
o reconhecimento da anima é um fator decisivo do processo de
individuação.
Mas afinal o que a anima significa na vida do homem? Porque é um
arquétipo tão importante na psicologia masculina? A anima é a alma do homem, é o
que lhe dá vida, é o que dá profundidade à sua existência, dá-lhe sabedoria,
paixão e vontade de viver. É alma, porém não no sentido religioso que conhecemos
e tentamos de todas as maneiras salvá-la das garras do inferno após a morte.
A anima poderá ser o próprio inferno na vida de um homem ou poderá ser
seu verdadeiro paraíso aqui na terra, basta entender seu significado e não
abandoná-la.
Jung falou muitas vezes da anima e uma delas se pronunciou da
seguinte maneira:- "A anima é um fator de maior importância na psicologia do
homem, sempre que são mobilizados suas emoções e afetos. Ela intensifica,
exagera, falseia e mitologiza todas as relações emocionais com a profissão e
pessoas de ambos os sexos. As teias da fantasia a ela subjacentes são obra sua.
Quando a anima é constelada mais intensamente ela abranda o caráter do homem,
tornando-o excessivamente sensível, irritável, de humor instável, ciumento,
vaidoso e desajustado. Ele vive num estado de mal-estar consigo mesmo e o
irradia a toda volta. Às vezes, a relação do homem com uma mulher que capturou
sua anima revela a existência da síndrome."
A anima é aquilo que o homem desconhece nele mesmo, se o que ele
conhece é seu ego masculino o que desconhece é sua anima, seu feminino, Jung
expressa-se, quanto a este aspecto, da seguinte maneira: "O que não é eu, isto
é, masculino, é provavelmente feminino; como o não-eu é sentido como não
pertencente ao eu, e por isso está fora do eu, a imagem da anima é geralmente
projetada em mulheres."
A primeira mulher a receber esta projeção é a mãe, a influência
exercida pelo complexo materno nesta fase decidirá sobre o sucesso ou insucesso
na retirada desta projeção. O poder dominante da mãe poderá segurar a anima do
filho numa relação infantil, sendo que Jung diz o seguinte: "A figura
da anima que conferia à mãe, na ótica do filho, um brilho sobrenatural é
desfeita gradualmente pela banalidade cotidiana, voltando para o inconsciente,
sem que com isso perca sua tensão originária e instintividade. A partir desse
momento ela está pronta a irromper e projetar-se na primeira oportunidade,
quando uma figura feminina o impressionar, rompendo a cotidianidade. "
A projeção é um mal necessário, pois somente podemos conhecer
nossos conteúdos inconscientes quando projetados no mundo externo de maneira que
podemos olhar e ver-nos como num espelho. Naturalmente, a dificuldade reside no
reconhecimento de que as características que vemos são nossas, pertencem ao mais
íntimo de nós mesmos. Esta dificuldade deverá ser vencida com o decorrer da vida
e com a vontade consciente de voltarmos para nós mesmos em busca de respostas às
nossas mais profundas dúvidas.
Em se tratando do homem em geral, ou seja, aquele que não
apresenta distúrbios sérios identificados dentro da estreiteza da
psicopatologia, vamos encontrar aspectos também desastrosos quando possuído pela
anima inconsciente. Suas projeções são carregadas de animosidade, e atribui
facilmente à mulher, enquanto companheira, suas próprias indisposições e seu mau
humor, características de uma anima insatisfeita. A mulher que era uma deusa se
transforma em bruxa com a maior facilidade.
Jung salienta que a manifestação do arquétipo da anima se
dá de diversas formas, nas experiências amorosas são bastante significativas;
"Nas experiências da vida amorosa do homem a psicologia deste arquétipo
manifesta-se sob a forma de uma fascinação sem limites, de uma supervalorizaçã o
e ofuscamento, ou sob a forma da misoginia em todos os seus graus e variantes,
que não se explicam de modo algum pela natureza dos "objetos" em questão, mas
apenas pela transferência do complexo materno. No entanto, este é criado
primeiro pela assimilação da mãe – o que é normal e sempre presente – a parte
feminina do arquétipo preexistente de um par de opostos "masculino-feminino " e ,
secundariamente, por uma demora anormal a destacar-se da imagem
primordial da mãe."
O modo mais visível que temos para observar a projeção da
anima é no ato de apaixonar-se, que é valioso para a aproximação dos sexos e com
isso dar inicio a um relacionamento, porque somente através do relacionamento
com o outro é que conseguimos desenvolver e integrar nossos aspectos
inconscientes. O apaixonar-se, para o homem, consiste na projeção de sua
anima numa mulher e fascinar-se pelo que vê. Entretanto, o relacionamento do
homem com a mulher amada não será melhor do que seu relacionamento com sua
própria anima.
O relacionamento entre homem e mulher requer habilidade,
disponibilidade, interesse mútuo e muito trabalho, isto tudo implica em
amadurecimento de várias instâncias psíquicas inclusive e principalmente, no
caso do homem, da anima.
A anima inconsciente prejudica o homem não só nas suas
relações amorosas, mas também em outras relações como o trabalho, por exemplo.
Não é raro observarmos certos comportamentos em homens de negócios, executivos
aparentemente fortes, que sem mais nem menos se sente atacados por estados
emocionais que o dominam descaracterizando totalmente sua persona. Seu
comportamento torna-se bizarro, e o homem aparentemente forte transforma-se num
garoto birrento de palavras fúteis. É o verdadeiro filhinho dominado pela
mãe.
Segundo Jung, até a metade da vida, mais ou menos 35 anos,
o homem não necessita estar conectado com sua anima, porque deverá estar voltado
para o mundo externo procurando atingir objetivos materiais, após a meia idade
no entanto, o homem não consegue ter uma vida tranqüila se não se ligar à sua
anima, diz ele:- "Depois da metade da vida, no entanto, a perda permanente da
anima significa uma diminuição progressiva da vitalidade, flexibilidade e
humanidade. Em geral, disso vai resultar uma rigidez prematura, quando não uma
esclerose, estereotipia, unilateralidade fanática, obstinação, pedantismo ou seu
contrário: resignação, cansaço, desleixo, irresponsabilidade e finalmente um
ramolissement infantil, com tendência ao alcoolismo. Depois da metade da vida
deveria restabelecer- se, na medida do possível, a conexão com a esfera da
vivência arquetípica."
Na meia idade, quando o homem encontra-se no auge de suas
realizações masculinas, ele experimenta com mais intensidade seus complexos e
possessões pela anima. Uma depressão, característica desta fase, poderá vir
acompanhada de uma voz interna que o acusa de tudo o quanto ele não realizou,
aponta seus pontos fracos no que se refere às suas emoções e sentimentos
internos. Essa voz, ou este pensamento, diz Sanford, "personifica a anima que se
tornou absolutamente amarga e tenebrosa" por ter sido, até então desconsiderada
e deixada de lado. Continua Sanford: "Ela é a imagem viva do fracasso do homem
ao lidar com o outro lado de sua vida – o lado feminino, o lado espiritual, o
lado da alma. Ela se mostra tenebrosa e monstruosa em proporção direta com o
sucesso exterior do homem e com a negação interior das coisas da alma."
Um homem que não consegue expressar seus sentimentos e dar
expressão à sua anima, se transformará numa pessoa ressentida e mal
humorada. Diz SANFORD: "Um homem que vive sempre evitando encontros
de cunho emocional com outras pessoas é dominado pela Mãe. Uma das formas de ele
se libertar de seu complexo de Mãe consiste em expressar-se através do
relacionamento. "
Quando um homem não expõe seus sentimentos porque tem medo
da mulher brigar com ele, está regredindo a um estado anterior infantil, quando
sua mãe, muito provavelmente fortemente dominante e manipuladora, mostrava-se
zangada e descontente com seu comportamento. O medo que o homem sente é o da
rejeição que um dia já foi experimentado através da zanga da mãe. O homem
precisa desvencilhar- se do complexo materno, vivenciando- o plenamente pelo
relacionamento. Caso contrário, ele será sempre o menino que encolhe os ombros
perante uma mulher. O homem precisa ajudar a si próprio, salienta Sanford: "Isto
significa que ele tem de descobrir e ajudar o meninozinho que existe dentro
dele. Ao reconhecer o seu lado de meninozinho magoado, fica muito menos exposto
a se identificar com ele, e pode conservar-se mais como homem que deve ser no
relacionamento com a mulher em sua vida."
Para o homem, um comprometimento no desenlace do complexo
materno, inevitavelmente acarretará uma dificuldade no reconhecimento de sua
anima e, portanto, dificuldades em relacionar-se com outras pessoas e com ele
mesmo. O homem sente-se inseguro, porque não consegue controlar suas emoções,
sente-se deprimido e é assolado, constantemente, pelo mau humor, sendo todos
esses efeitos característicos de uma anima inconsciente, mal entendida.
Para o reconhecimento da anima e sua conseqüente integração
na consciência, o homem em dificuldades, necessita primeiramente livrar-se dos
resquícios do um complexo materno mal resolvido. A anima mesmo atuando
negativamente poderá abrir caminho para que o homem se liberte do complexo
materno, basta para isso dar importância aos seus sentimentos. Uma vez
liberto de seu complexo materno, poderá relacionar-se adequadamente com sua
anima.
O homem deverá, então, dar ouvidos à sua anima e não
evitá-la, deverá vivenciar este estado profundamente e não fugir dele através de
subterfúgios como drogas, bebidas, separação da esposa, etc. Estes são
artifícios enganosos que não o ajudarão em nada a encontrar o caminho da
realização. Se o homem aceitar estas suas indisposições e usar a auto-reflexão,
sua anima reconhecida se tornará uma grande aliada no caminho da individuação.
Quanto mais ignorados forem os lados negativos das figuras internas, no caso, a
anima, mais fortemente eles atuarão provocando resultados indesejáveis.
Uma maneira de que o homem dispõe para manter um primeiro
contato com sua anima é reconhecer o problema que lhe afligi como seu mau humor,
a insatisfação, suas fantasias, o que significa reconhecer as projeções
tornando-as conscientes. A anima inconsciente usa vários recursos para se
manifestar e com isso obter atenção, o mais freqüente é encher a cabeça do homem
de fantasias sexual-erótica, o homem neste estado, envolve-se num auto-erotismo
e passa a interessar-se por filmes, livros revistas pornográficas e outros,
demonstrando uma postura infantil perante a sexualidade.
O homem poderá libertar-se de sua anima nociva quando
aprende a lidar com os seus sentimentos e expressá-los através do relacionamento
com os outros. Sanford diz que: "Desta maneira ele escapa da Mãe e
desenvolve seu lado Eros"
A anima, dizia Jung, "é o arquétipo da vida" e um homem sem
relacionar-se com o seu mundo interior terá uma vida sem criatividade, sem
emoção, poderá até obter grande sucesso, porém ficará sempre insatisfeito,
sentindo um vazio interior. A anima, além de mediadora, alerta o homem para a
busca de sua verdadeira essência. É a alma do homem e dá a ele ânimo para lutar
e coragem para enfrentar os sofrimentos da vida.
O desenvolvimento da anima passa por quatro níveis, segundo
observa Jung, que não ocorrem, necessariamente, um após o outro e estão
representados simbolicamente da seguinte forma: O primeiro estágio simbolizado
na figura de Eva, como mulher primitiva e induz um relacionamento instintivo e
biológico; o segundo estágio pode ser representado por Helena de Fausto, ela
representa as mulheres também num sentido erótico porém mais ligadas ao
romântico e especialmente atraentes; o terceiro estágio fica bem exemplificado
pela Virgem Maria que é uma forma espiritualizada e sacralizada da anima e, por
último, um estágio em que a anima está simbolizada pela sabedoria e manifesta-se
sob a forma de uma mulher divina, pela Sapiência que transcende a santidade.
Estes estágios são normalmente observados em sonhos, contos de fadas, mitos e na
literatura. Embora o quarto estágio é o estágio ideal do desenvolvimento, os
Junguianos concordam que é praticamente impossível de ser alcançado. No entanto,
com esforço e dedicação o homem poderá obter um grau de desenvolvimento bastante
satisfatório em relação à sua anima.
Uma importante característica gerada no complexo materno é
o medo que o homem desenvolve do Feminino e que dificulta consideravelmente o
desenvolvimento da anima. Este medo tem origem na primeira fase de diferenciação
do ego quando o ego-herói é afugentado pela Mãe Terrível que ao mesmo tempo
lança seus tentáculos na tentativa de reter o filho.
Sobre o medo do Feminino, NEUMANN diz: "O medo patológico
que a criança tem do feminino, a "bruxa" do verdadeiro complexo materno, faz um
contraste com seu medo normal ligado à transição para o desenvolvimento.
Esquematicamente, podemos distinguir três formas principais de expressão deste
complexo. A primeira é a prisão do ego pela "Mãe", evitando assim a progressão
necessária ao desenvolvimento. A segunda, é que há uma tendência regressiva no
ego, isto é, uma perturbação do ego da criança na qual a tendência progressiva
não é suficientemente forte ou foi desviada por uma tendência instintiva,
regressiva, a sair em busca da fase matriarcal. Em terceiro lugar, porém, pode
estar presente uma constelação na qual um desenvolvimento já realizado,
progressivo, do ego é destruído."
O medo do Feminino é visivelmente observado na violência do
homem em relação à mulher. Não conseguindo relacionar-se com o seu Feminino
interno, sua anima, porque está bloqueada pelo medo enraizado nas entranhas do
complexo materno, ataca a mulher como defesa. É o poder em detrimento do amor,
porque onde domina o poder não há espaço para o amor.
Outra maneira que o homem tem para expressar seu medo do
Feminino é fugindo de seus próprios sentimentos uma vez que eles são vistos como
características próprias das mulheres. Agindo assim, afastam-se de sua própria
anima ficando alienados dentro deles mesmos. Este pavor do Feminino também é
percebido através das críticas que os homens recebem de seus companheiros se
demonstrarem fraquezas, muitos são capazes de afastarem-se por medo de verem-se
refletidos no medo do amigo.
Outro medo que vem do complexo materno, em relação ao
Feminino, é instalado com a ajuda da figura paterna. Embora não tenha sido
enfatizada a importância do papel do pai no desenvolvimento infantil, não
significa que sua imagem arquetípica e sua presença real sejam menos importantes
no desenvolvimento do menino do que o papel da mãe. O pai tem um papel
importante em todas as fases de desenvolvimento do menino. Na transição do
matriarcado para o patriarcado, por exemplo, desempenhará uma função de
equilíbrio para a força poderosa da mãe. Sua postura e suas condições
psicológicas, sendo adequadas, poderão servir como incentivo ao crescimento do
filho funcionando como uma ponte que ajudará o menino a transcender do mundo da
mãe para o mundo do pai. Se, ao contrário, for um pai ausente tanto fisicamente
quanto psicologicamente o menino poderá permanecer preso à mãe.
Como vimos, o ego entra em luta contra o dragão para obter
sua própria libertação, uma outra luta, no entanto está prevista e se dará para,
desta vez, resgatar o Feminino, representado pela anima, que ficou preço à mãe.
A anima significa o Feminino enquanto transformação é um novo rumo a um novo
destino desconhecido. Tudo o que é novo e transformador é excitante, mas gera
medo. O medo que o ego enfrenta desta vez é o medo do Feminino independente.
Neumann salienta que este medo do desconhecido é causado pela insegurança do ego
que ficou preso ao mundo da mãe, diz ele: "Todas as vezes que o desenvolvimento
do ego masculino é perturbado e que ele não alcançou a independência, por
exemplo, quando seu ego permaneceu infantil em virtude de uma fixação na mãe e
não alcançou a "combatividade" necessária ao ego heróico – cada exigência de
"transformação" , cada exigência de desenvolvimento rumo a algo desconhecido e
distante de tudo que proporciona segurança, é respondido com medo e na
defensiva."
O pai agora, também tem um papel especial, se for
influenciado por um complexo materno, poderá reagir violentamente contra este,
demonstrando seu medo terrível do feminino, deixando, assim, de ser um modelo
saudável para o filho na sua relação com o feminino. O medo que o menino sente
do feminino e que perpetuará por toda sua vida se não analisado, também é
responsabilidade do pai, ou seja, de como o pai age em relação ao seu próprio
feminino.
A raiva que muitos homens sente de suas mulheres é, em
alguns casos, resultado de abuso infantil, no entanto, a maioria das vezes os
casos não se ajustam a este perfil, mas aparece como conseqüência de excesso de
amor materno e falta de amor paterno. A mãe prende o filho e o pai não o ama
suficientemente para ajudá-lo a sair do mundo da mãe. A dor gerada por este
sufoco e abandono é profunda e quando adulto, o homem, não consegue voltar para
si mesmo com medo de vivenciar novamente esta dor, então sua relação com os
outros se torna insuportável porque vê o outro como fonte de sua dor.
O medo do Feminino no homem adulto é provocado pelo
complexo materno e também pelo complexo da anima. Se o homem estiver preso a um
complexo de anima a solução, apesar de trabalhosa envolve uma camada mais
recente da psique, é portanto mais fácil de ser atingida, enquanto que se ele
estiver preso a um complexo materno que é mais profundo, a solução será
conquistada com muito mais trabalho. Todas as arestas e resquícios do domínio da
mãe deverão ser reavaliados se o homem desejar trilhar o caminho da
individuação.
Individuar-se é conhecer a si mesmo tão profundamente que
todos os seus conteúdos mais escondidos do inconsciente terão oportunidade para
se expressarem na consciência. É uma perfeita integração de inconsciente e
consciente.
O homem só poderá enveredar-se por este caminho se sua
principal guia, a anima, estiver sendo reconhecida, atendida e respeitada.
Se ela estiver deformada, atuando inconscientemente, não
conseguirá exercer sua principal função que é iluminar o caminho do mundo
interno.
A mãe e a relação primal é a base do desenvolvimento
humano. A qualidade do relacionamento mãe-filho nos primeiros meses de vida
determina como aquele pequeno indivíduo vai se conduzir no mundo durante toda
sua vida. A segurança, a proteção, a ausência de medo e o vínculo afetivo
estabelecido nesta fase farão parte da verdadeira base da existência humana.
Qualquer desordem emocional ou física que venha abalar a
base que dá sustentação ao bebê poderá destruir-lhe a capacidade de
desenvolvimento fixando-o sob o domínio arquetípico materno.
O complexo materno que remonta a fase mais infantil e
primitiva do ego atrapalha ou impede o desenvolvimento integral e a individuação
no homem, uma vez que interfere no reconhecimento da anima que é o arquétipo
guia do inconsciente.
Quando ativado e inconsciente o complexo materno fixa o
homem na mãe e o impede de seguir adiante em busca de sua realização pessoal.
Deforma sua visão de mundo e o deixa vivendo somente na superfície do seu eu
consciente. Interfere em suas relações com outras pessoas, principalmente do
sexo oposto e impede a projeção adequada de sua anima.
A anima quando subdesenvolvida pode levar o homem para
longe da realidade, manifesta-se negativamente na sua personalidade fazendo com
que se sinta irritado, depressivo e o leve à apatia. Nada para o homem neste
estado está bem, a anima faz dele um sentimental, sensível, melindroso. Torna-o
um tipo afetado que tudo e a todos critica, falta-lhe autonomia, sente-se
impossibilitado de relacionar-se adequadamente com uma parceira e muitas vezes o
seu desenvolvimento profissional fica aquém de sua capacidade.
O segredo para o homem que tem dificuldade de
relacionamentos tanto externos quanto internos é buscar as raízes, ouvindo sua
voz interna e manter com ela um diálogo honesto, ser humilde e reconhecer que
está atolado na vida e na mãe.
É impossível eliminar totalmente o complexo materno, porém
perderá sua energia na medida em que for vivenciado plenamente e seus
componentes forem integrados ao consciente. Ao vivenciar as fantasias e imagens
que emergem do complexo, o homem estará construindo uma ponte para o seu
inconsciente e dará oportunidade para que sua anima se expresse adequadamente,
exercendo sua função de guia.
Embora, ficou demonstrado que a mãe pessoal não deve ser a
única responsável pelo desenvolvimento do filho e que o complexo materno não
pode ser resolvido reduzindo-o unilateralmente à mãe humana porque, se assim o
fosse, estaríamos desconsiderando a existência dos arquétipos, não devemos, no
entanto, ignorar que suas atitudes e sentimentos ao lidar com a criança ocupam
lugar de destaque. Muitos problemas poderão ser desencadeados a partir do
comportamento da mãe independentemente de serem conscientes ou não. Sabemos ser
impossível exercermos controle sobre o nosso inconsciente, porém, quanto às
atitudes conscientes maternas, estas sim, poderiam ser balizadas e refletidas,
com o objetivo de preservar a unidade psicológica do filho. Um filho não deverá
ser uma válvula de escape, nem tampouco uma tábua de salvação para mães
impedidas de se relacionarem adequadamente com seus parceiros. Deverá ser antes
de tudo a oportunidade para que a mãe, enquanto feminino, exerça sua principal
função neste mundo que é gerar e fazer crescer nova vida. Se o homem deseja sua
evolução deverá reconhecer que o inimigo está dentro dele e não fora. Precisa
lutar e desvencilhar- se da dependência dos pais pessoais, senão estará fadado a
ver seus relacionamentos externos desmoronarem- se e impossibilitado de contato
com o seu mundo interno. Ficará preso para sempre no mundo infantil. O preço
mais alto, no entanto, que pagará por não examinar seus medos e não se livrar do
complexo materno será o sacrifício de sua própria alma.
A cura do homem ferido pelo complexo materno depende
primeiro da observação do efeito do seu complexo materno atuando dentro dele. É
preciso coragem, paciência, perseverança e boa vontade para lutar com um mal tão
profundo. A humildade e resignação para resgatar as projeções também devem estar
presentes e a mais importante de todas as tarefas será o desenvolvimento da
capacidade de relacionar-se com sua anima com seu lado feminino que o levará a
uma viagem surpreendente pelo inconsciente em busca do encontro com o
Si-Mesmo.