A distinção já localizável em Freud entre um eu-real e um eu-prazer poderia trazer um caminho possível de resposta. Articulando autores no interior da psicanálise que se dedicaram a pensar o autismo com autores que observaram a evolução dos esquemas corporais em crianças desde momentos bem precoces de seu desenvolvimento, procurou-se, na confrontação com uma prática clínica, trabalhar o que se passa neste momento de estruturação.
O que há de decidido no autismo, contrariamente a psicose infantil? Ou então, haveria na infância uma forma mais definitiva, mais fechada?
Vejamos em primeiro lugar a questão do eu. Se uma criança dita autista não pode ser considerada, estritamente falando, como um sujeito da linguagem, há, de outro lado, um eu, que preside aos seus movimentos no mundo dos objetos e mesmo no mundo dos outros, ainda que seja para evitá-los. Como é que uma criança anda, pensa, se há danos sérios na construção de sua imagem corporal, pelo menos na imagem corporal que entendemos ser construída por meio do olhar do outro, por meio das significações que lhe são imputadas pelo Outro?
Essas crianças apresentam um desenvolvimento psicomotor de modo independente, uma inteligência em funcionamento, uma coordenação motora que se pode ver. Quem é esse eu?
No texto de Freud, A pulsão e seus destinos (1973), encontramos essa afirmação de que existe um eu que se encontra originariamente no princípio da vida anímica. O mundo exterior não oferece para ele interesse algum. Neste primeiro tempo, o sujeito coincide com o que é prazeroso, e o mundo exterior com o que é indiferente. Freud o chama de eu-real. É só num segundo tempo que se diferencia um eu-prazer, para o qual o sujeito coincide com o que é prazeroso e o mundo exterior com o que é desprazeroso.
Lacan (1959-60) lê a formulação de Freud a seu modo, em primeiro lugar dizendo que esse eu-real não está pulsionalizado nem é auto-erótico. Concebe-o de fato como o Sistema Nervoso Central, na medida em que funciona não como um sistema de relações, mas como um sistema destinado a assegurar uma certa homeostase das tensões internas.
É possível afirmar que o autista se vale bem desse esquema corporal, que é de fato um esquema real, ao qual não foi enodada essa imagem narcísica, imaginária, ofertada como dom pelo agente materno?
O mecanismo que explica essa possibilidade de imitação em idade tão precoce é o da coincidência transmodal: a criança associa o que vê com o que sente seu rosto. Detectando coincidências, a criança pode, desde o começo de sua vida, traduzir os estímulos ambientais em estados internos.
Desde o início, um mecanismo inato que já permite uma primeira "noção de si", uma primeira imagem corporal, ainda que extremamente inicial. Nesse autor a noção de imagem corporal corresponderia mais precisamente à de esquema corporal, tal como é utilizada em psicanálise.
Há outra hipótese de uma imagem neuronal capaz de detectar os tipos de afeto que o outro lhe transmite.
A imagem do corpo da criança dentro do cérebro é capaz de refletir a ação do corpo da pessoa que está diante dela. Essa representação cerebral do outro está ancorada em uma imagem motora.
A imagem do corpo da criança dentro do cérebro é capaz de refletir a ação do corpo da pessoa que está diante dela. Essa representação cerebral do outro está ancorada em uma imagem motora.
Em relação ao lugar do Outro na constituição da imagem corporal, esses pesquisadores fazem observações interessantes, utilizando naturalmente um referencial teórico diferente do da psicanálise. Em seus estudos, a relação pais-bebê assume importância capital, e nisso coincidem com os psicanalistas. Para eles, os bebês apreciam as correspondências entre suas próprias ações e a de seus companheiros. Por isso, o reconhecimento dessas correspondências, proporciona para eles uma linguagem comum e momentos especiais de conexão. As correspondências têm sua própria significação emocional: todos os participantes desfrutam destes momentos.
Já a imagem corporal existe, desde a concepção, e a todo momento, sendo "memória inconsciente de todo o vivido relacional,graças à imagem do corpo, cujo suporte é o esquema corporal, podemos entrar em comunicação com os outros.
É possível,assistir à aparente perda de reconhecimento das vozes familiares do entorno da criança; esta se torna não apenas muda, mas não ouvinte. Ela não ouve mais as vozes humanas, as palavras, mas apenas os ruídos da vida. Ela anula o que dizemos, mas recebe as referências úteis para a sua sobrevivência riscando de sua atenção os humanos que a cercam.Viver sozinho, como um espécime anônimo da espécie.
Há uma separação entre sujeito e corpo, sujeito parece retirar o desejo de seu corpo e tende a descansar do trabalho de viver com esse corpo na realidade;
Há uma separação entre sujeito e corpo, sujeito parece retirar o desejo de seu corpo e tende a descansar do trabalho de viver com esse corpo na realidade;
A clínica nos mostra que, nesse momento, a criança responde com aquilo que pode ser chamado de viscosidade. Por falta de relação entre o corpo e a linguagem, alguns autistas não sabem beijar seu semelhante; sabem apenas encostar seus lábios no rosto alheio. Colam-se em vez de beijar. O outro é fonte de sensações e não de percepções
Em relação à intervenção precoce, observamos que os pediatras e neuropediatras já estão alertados para a necessidade de acompanhar a relação entre problemas orgânicos graves e atraso no desenvolvimento. Isso, vemos que já acontece; já sabem que têm que ver se a criança trabalha direitinho com os objetos, etc. Acontece que, justamente no caso dos autistas, o desenvolvimento pode estar muito bem e isso pode despistar os pediatras, porque será o esquema corporal e não a imagem corporal que estará se desenvolvendo. Sabe-se o quanto as crianças autistas são saudáveis. Então será necessário conversar com os pediatras, para que não se enganem, já que mesmo numa criança indo muito bem neste ponto do desenvolvimento, alguma coisa da ordem da não constituição do sujeito da linguagem pode estar ocorrendo.
Em relação à escolarização destas crianças, toda vez que lhes propomos escolarização, não estamos pensando em prover a ela condições de aprendizagem, no sentido de que possam se mover no mundo com esses conhecimentos. Estamos querendo que elas se beneficiem de outras coisas oferecidas pela escola: os laços sociais que ali se estabelecem, as possibilidades de oferta de outras posições. O terapêutico está nessa circulação e nessa relação com outros, está naquilo que vão obter nessa circulação por esses objetos de conhecimento.
2 comentários:
Boa noite muito bem estruturado assunto , adorei mesmo muito, penso que poderiamos fcar amigos de blog :) lol!
Aparte de piadas chamo-me Luís, e como tu escrevo blogues se bem que o tema principal domeu blogue é muito diferente deste....
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Gostei muito aquilo vi escrito!
Oi interessante página , gostei bastante, penso que poderiamos tornar-nos blog palls :) lol!
Tirando as brincadeiras o meu nome é Philip, e assim como tu publico webpages embora o foco da minha página é bastante diferente do teu....
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Adorei bastante aquilo vi escrito nesta 2a visita
Voltarei!:)
Ps:tenho um portugues ruim.
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