A
Pseudolalia é uma mentira compulsiva resultante dum longo vício de mentir. A
pessoa mente por mentir, perde a noção do que é verdade ou não, convence-se das
mentiras como puras verdades.
A pseudolalia pode conduzir a graves distúrbios de personalidade, podendo o pseudolálico acabar por perder a sua individuação e viver num real criado imaginariamente, comportando-se duma forma difícil de contacto humano e só com tratamentos profundos poderá melhorar. As pessoas perdem lenta e gradualmente a consciência da gravidade da doença que vão adquirindo, porque a sua realidade vai perdendo cada vez mais sintonia com o verdadeiro real. Por fim o vício de mentir é um ato inconsciente e perante a mais simples situação a fuga à verdade brota espontânea e como uma repetição compulsiva e criação de verdades inexistentes. Mentirosos compulsivos. Há quem diga mentiras caridosas. Há quem minta por vício. Há quem diga meias verdades. E também há quem diga sempre a verdade. Existem, além destas, um outro tipo de mentiras: as provenientes do chamado mentiroso compulsivo, que mente sistematicamente e aparentemente sem razão. Aqui estamos já a lidar com alguém para quem a mentira assume contornos de dependência, tal como o álcool ou a droga. A mentira torna-se um vício, já que é dita de forma compulsiva, ou seja, o mentiroso tem consciência que está a mentir mas não consegue controlar esse impulso.
O vício
compulsivo de mentir é a fuga da realidade
A pseudolalia é uma doença grave. Trata-se do vício compulsivo de mentir. Segundo psiquiatras e psicólogos, a prática frequente de viver uma situação imaginária pode ser o resultado de uma profunda insegurança emocional, além de traumas de infância. A atitude funciona como um mecanismo de autodefesa para pessoas que apresentam um quadro de carência acentuada. Estudos comprovam que crianças vítimas de uma educação julgadora, imposições, disciplinas rígidas, e que por vezes vivem dominadas com autoritarismo, são fortes candidatas à doença. Pesquisas também demonstram que uma pessoa que carrega o vício de mentir pode não conseguir se controlar, tornando-se semelhante a quem tem o vício do jogo ou é dependente de drogas ou álcool. Visão de quem entende: Na opinião da dra. Leila Cury, Livre Docente, que já tratou vários casos de pseudolalia, a compulsão pela mentira é uma distorção. "Existem pessoas que chegam ao ponto de não saber mais o que é verdade. Embora o assunto seja mais voltado para a criança, há muitos adultos vivendo o problema, o que torna a situação ainda mais grave", disse a médica. Segundo a dra. Leila, é muito mais fácil trabalhar o problema na infância do que na fase adulta. Quando a mentira vira uma doença:
Para que
mentir? A pergunta que Noel Rosa e Vadico transformaram em canção aflige tanto
pais de pequenos mentirosos quanto a mulher que surpreende o marido com
desculpas esfarrapadas. Para que mente o menino que insiste em contar aos pais
e amigos façanhas inverossímeis? O psicanalista Wilson Chebabi afirma que as
crianças mentem porque desejam dar aos seus pais a versão que, supostamente,
estes gostariam de ouvir.
"Estes
pais precisam se examinar para verificar se não estão impondo aos filhos os
seus desejos e se interessando pouco pelos desejos dos filhos. O colapso da
atividade de brincar é o que agrava a intensidade da mentira. Se, ao invés de
mentir, a criança tem a chance de brincar, pode chegar bem perto da satisfação
de seus desejos. Hoje, cada vez mais, a adolescência é uma extensão da
infância, sem as possibilidades de satisfação desta, na brincadeira. No
casamento, a mentira se dá dentro do mesmo processo: ambos tentam ser o que
gratifica o outro para que o outro também se sinta gratificado".
Há mentiras
que indicam crises de auto-estima. O psiquiatra infantil Alfredo Castro Neto
atende crianças de classe média que estudam em colégios de luxo e mentem por
questão de status. "Estas crianças se sentem socialmente humilhadas. A
mentira, para elas, é uma defesa". Já o adolescente mente para se proteger
de pais invasores ou repressores. A menor R.B. de 17 anos, por exemplo, diz que
vai dormir na casa da amiga, mas dorme com o namorado. "Se eu disser a
verdade, não poderei sair de casa", justifica-se.
O psicanalista
Alberto Goldin vê a mentira do adulto como necessidade, às vezes compulsiva, de
obter lucro ou prazer. "Há duas espécies de mentira: a que prejudica
alguém é diferente da mentira social. A mentira compulsiva é uma doença, mas a
verdade compulsiva também é. Não se pode falar a verdade o tempo todo. Por
isto, é difícil julgar mentirosos quando se trata da relação amorosa. Mentir,
evidentemente, não é o melhor modo de se relacionar. Mas, às vezes, é a única
opção. Os contratos humanos expressam a força e também a fragilidade da
condição humana".
O mentiroso compulsivo, para Wilson Chebabi, só
deixa de mentir quando aceita sua própria precariedade. "O problema mais
grave na mentira é social. A sociedade mantém convenções que são incompatíveis
com a condição humana. O sujeito mente porque não suporta o conflito penoso e
irremediável entre seus desejos e a frustração imposta pela realidade. Numa
sociedade menos hipócrita, este conflito entre o desejo e a realidade
permaneceria, mas seria melhor administrado". A resposta à pergunta de
Noel Rosa talvez seja simples: o sujeito mente para tornar a realidade menos
frustrante. |
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sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015
Pseudolalia
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