O Brasil vive uma epidemia de diagnóstico de transtorno de déficit de atenção, hiperatividade, transtorno de oposição desafiadora, depressão, dislexia e autismo em crianças e adolescentes.
Entre 5% e 17% de crianças encaminhadas para serviços de especialidades médicas recebem uma receita com medicações extremamente perigosas, como psicoestimulantes, antidepressivos e antipsicóticos.
O remédio tomou conta do processo de educação e atribuiu ao organismo da criança a responsabilidade pelo aprendizado.
Foi isto o que mais de 1.200 profissionais da área da saúde e educadores ouviram em duas sessões realizadas no auditório da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Crianças acabam sendo diagnosticadas muito rapidamente e de forma errônea sem receber nenhum outro tipo de atenção e análise.
"A venda de medicamentos à base de metilfenidato aumentou 1.000 por cento nos últimos anos. São dois milhões de caixas por ano. Esse número é muito expressivo".
Existem doenças e problemas de saúde que podem interferir com o desenvolvimento cognitivo e afetivo das pessoas, existem pessoas que aprendem com mais facilidade que outras e existem pessoas tranquilas, calmas, apáticas, agitadas, empolgadas e mais agressivas.E entre os extremos há infinitas possibilidades.
Existem diferentes modos de aprender e lidar com que já foi aprendido e cada um estabelece os seus próprios processos cognitivos e mentais para aprender.“Cada ser humano é diferente do outro”.
Aa criança brinca, faz birra, chora e tenta impor sua vontade.Mas, hoje em dia, quando ela corre um pouco mais é dita como hiperativa, se fala muito é rotulada de desatenta, e se troca letras no processo de alfabetização - o que é esperado - dizem que ela tem dislexia.
Ao diagnosticar a criança com algum distúrbio, a sociedade está deixando de considerar todo o processo de escolarização e desenvolvimento natural, crianças são cheias de energia, e nem todas são hiperativas.
"Do ponto de vista da psicologia da educação, estamos vivendo um retrocesso. Estamos culpando a criança por não aprender e medicando-a. O remédio não pode ocupar o lugar da escola e da família. Se assim for, estamos invertendo valores do campo da saúde, da educação e da psicologia com relação ao desenvolvimento infantil e deixando de usar todos os instrumentos pedagógicos no início do processo de alfabetização".
Contudo,
atualmente, tornou-se comum medicar crianças e adolescentes que apresentam
alguma conduta inadequada como se isso fosse uma doença. As crianças, que
no passado eram chamadas de 'arteiras' e 'danadas', hoje são diagnosticadas
como portadoras de Transtorno de Déficit de Atenção (TDA). “Parece que estamos
abrindo mão da nossa função de educadores. Os pais e professores estão passando
essa responsabilidade para os médicos e os remédios”.
O termo
'medicalização' se refere à patologização dos processos escolares como a
dificuldade de ler e escrever ou a apresentação de comportamentos considerados
impróprios pela escola. Neste caso, esses fenômenos são transformados em
doenças que devem ser tratadas, como é o caso da dislexia, entre outros
transtornos. Dentre esses principais problemas, referem-se à questões ligadas à
leitura, escrita e atenção.
Um número significativo de crianças não
aprende a ler e escrever na idade considerada adequada no país. Medicalizar,
então, é conceber que as crianças não aprendem ou brincam demais,tem muita
energia e gastam com atividades, porque têm uma doença, um distúrbio.
A
medicalização reduz a compreensão dos problemas que afetam a escola e banaliza
problemas sérios que alguma criança possa vir a ter.
Quando
uma criança apresenta um comportamento considerado hiperativo é importante
ensiná-la a lidar com a situação, isso não se trata de negar que o problema
exista, mas de discutir as causas e consequências do processo de medicalizar as
crianças,podemos e devemos buscar alternativas.
Se a família é desorganizada, não funciona bem, não tem
horário, isso pode desencadear um transtorno e estimular um tipo de
comportamento. Se a criança tem a tendência e a família propicia, isso funciona
como um gatilho. O problema é neurobiológico, não é só de ordem social ou
emocional.
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