Talvez
você já tenha assistido os programas da TV que abordam este tema onde uma
equipe composta por organizadores profissionais e psicólogas vão até as casas
das pessoas que sofrem com o transtorno de acumulação para ajudá-las na
organização de suas casas e, principalmente, de suas vidas.
Mas, isto
não acontece só com as famílias norte americanas que vemos na TV. De 2 a 4% da
população mundial sofre de distúrbio acumulação. Só nos EUA 6% da população de
19 milhões de pessoas luta contra a acumulação compulsiva. Mas os números
contam apenas parte desta história. Vamos nos aprofundar um pouco mais neste
universo que parece estar distante, mas que na realidade pode estar acontecendo
bem perto e com pessoas queridas. Vamos falar do que muita gente cala para não
ver em sinal de negação: “acumula-dores”.
Muitos
acumuladores conseguem manter segredo sobre sua condição e suas casas. Ao
contrário da percepção popular, muitos são indivíduos altamente bem sucedidos,
de alto funcionamento que lutaram contra a doença por décadas, em geral de
forma silenciosa.
“Ser
acumulador é ter uma aflição ao longo da vida” diz a Personal Organizer Terina
Bainter (EUA).
Em muitos
casos o transtorno se manifesta após algum evento traumático (ou uma série
deles), seja a morte do conjuge, de filhos, desemprego, diagnóstico de doenças
graves ou outros transtornos psíquicos como ansiedade, Transtorno Obsessivo
Compulsivo (TOC). Ter um acumulador na família também está entre os fatores que
contribuem com o surgimento do transtorno.
O
acumulador se comporta de forma semelhante as pessoas viciadas em álcool e
outras drogas, jogos e/ou outros tipos de vícios. Estas pessoas acumulam
“coisas” a fim de entorpecer suas emoções e ansiedade o que faz da acumulação
um vício.
“A
acumulação está sempre ligada a questões emocionais, a lutos que não foram
elaborados, estas dores também são o ponto de partida para conseguir mudar o
comportamento do acumulador e o ambiente onde vive. Para que esta mudança
ocorra é necessário que a pessoa consiga chegar à raiz da perda e viva o
processo de luto que foi retardado pela prática da acumulação. Para isto é
imprescindível o acompanhamento psicológico. ”, afirma o Me. Leslie Delp,
especialista em dor e perda e Mestre em Aconselhamento Psicológico.
Sinais de
alerta
O
primeiro alarme é quando a pessoa não convida mais ninguém para visitar sua
casa. Mesmo que os familiares e amigos se ofereçam ela sugere que façam algum
programa na rua.
A higiene
também serve como indicativo, é importante observar os odores e aparência. Mofo
e urina nas roupas, sinais de má higiene ou/e deixar de manter cuidados básicos
como pentear o cabelo. Faltar as consultas médicas ou outros eventos sociais
são sinais que costumam aparecer com o tempo.
As pessoas
mudam seus comportamentos rotineiros: atrasam o pagamento das contas, deixam de
lados cuidados com a higiene, os banhos tornam-se menos frequentes, a
socialização também é afetada, os cuidados com a casa são deixados de lado (não
apenas limpeza, mas também manutenção). A situação vira uma grande bola de
neve, porque um comportamento desencadeia no outro. O atraso nas contas leva
estas pessoas a passar por graves crises financeiras, a falta de higiene pode
trazer ou agravar problemas de saúde, a falta de socialização, deixar de sair
de casa, pode causar aumento da solidão e levar a pessoa à depressão e
isolamento.
Grande
maioria dos acumuladores tem algumas comorbidade como depressão, TOC,
ansiedade, transtorno bipolar, entre outros. Isto agrava ainda mais
comportamentos e tendências. Lembre-se: apenas profissionais de saúde
mental licenciados podem diagnosticar oficialmente o transtorno de acumulação
ou qualquer uma das comorbidades acima.
O que NÃO
fazer quando você quer ajudar um acumulador
Se você entendeu
como este transtorno causa sofrimento é muito importante ter empatia. As dicas
abaixo podem lhe ajudar:
- Construir uma relação de
confiança e respeito é absolutamente vital.
- Não seja crítico: nunca faça
comentários como: “eu só iria acender um fósforo para queimar este lugar”
ou “Gostaria de trazer um caminhão de lixo para casa e me livrar de tudo
isso”.
- Nunca limpe a casa ou
desfaça de seus pertences sem autorização. Não aproveite que a pessoa está
hospitalizada ou em férias para organizar a casa.
Estes
erros diminuem quaisquer vestígios de confiança que você poderia ter
conquistado. Se isto acontecer a pessoa poderá ter dificuldades em confiar em
outras pessoas o que impediria que recebesse qualquer tipo de auxílio
futuramente. Ajude de forma que não envergonhe e não cause ainda mais
sofrimentos a pessoa.
Alguns
passos para ajudar a estabelecer confiança e possibilitar uma intervenção:
- Visite a pessoa mesmo que
ela não queira: O isolamento só piora a situação.
- Minimize reações como gritar
e atacar verbalmente a pessoa que acumula. Em vez disso pergunte como ela
se sente em relação a desordem.
- Recorra aos profissionais
que são especialistas em organização (Personal Organizers) para que lhe
ajudem na organização (Claro que com a autorização da pessoa).
- Incentive a pessoa a iniciar
um processo psicoterapêutico para que ela possa ser acolhida e consiga
trabalhar as questões que a levaram a esta situação.
Infelizmente
no Brasil a literatura a cerca deste assunto é muito escassa. Mas, é possível
que futuramente isto mude. A profissão de Personal Organizer – Organizadora
Profissional
– tem crescido muito e os blogs destas profissionais podem trazer dicas ricas
sobre a organização de ambientes.
Algumas
pessoas começam a acumular sem ao menos perceber, guardando objetos como forma
de recordar, mas aos poucos estão deixando suas casas cheias de coisas que vão
se tornando acumulação, mesmo que em níveis menores.
As dicas
abaixo podem lhe ajudar a afastar o risco da acumulação sem deixar de manter
lembranças destes objetos que têm algum valor afetivo para você:
- Mantenha as fotos em
arquivos digitais: Aquelas fotos antigas de quando não tínhamos câmera
digital, podem ser escaneadas e armazenadas em nuvens. Mantenha
fisicamente apenas as fotos que ficam em porta retratos.
- Receitas escritas à mão,
recortes de notícias e revistas podem seguir o mesmo rumo das fotos.
Mantenha versão digital do que for importante e descarte o restante.
- Herdou móveis de algum
familiar e não tem coragem de desfazer porque tem valor sentimental? Uma
opção é fotografar e fazer um pin no Pinterest.
- Tem roupas que lembram bons
momentos, viagens e pessoas queridas? Quem não tem, não é mesmo? Mas, se
você não usa para que manter isto em sua casa? Neste caso a fotografia
poderá ajudar novamente, depois você pode doar para alguma instituição ou
mesmo para um brechó.
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