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domingo, 28 de abril de 2019

Suicídio

Segundo informações da Organização Mundial da Saúde (OMS), a cada ano são registrados mais de 800 mil suicídios no mundo, o que representa aproximadamente uma morte a cada 40 segundos. Além disso, a cada três segundos alguém atenta contra a própria vida. No Brasil, são mais de 11 mil casos anualmente, e muitas dúvidas surgem quando nos vemos na necessidade de ajudar uma pessoa que está pensando em suicídio.
O suicídio é uma questão de saúde pública. Não deve ser simplificado ou atribuído a uma única causa, pois trata-se do desfecho de uma série de fatores complexos que se acumularam na história daquela pessoa. Antes de tudo, é preciso buscar informação.
Embora os jovens formem um dos principais grupos vulneráveis é entre os idosos que ocorre o maior número de suicídios. O risco é ainda maior entre aqueles que têm doenças crônicas, incapacitantes ou intratáveis e que, por conta da idade, perdem amigos e companheiros de vida.
Conforme informações da cartilha “Suicídio: informando para prevenir”, produzida pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) e pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), existem dois fatores de risco principais para o suicídio:

  • Tentativa prévia: Pessoas que já tentaram tirar a própria vida têm de cinco a seis vezes mais risco de tentar outra vez. Estima-se que metade daqueles que se suicidaram já tinham tentado antes.
  • Doença mental: Quase todos os indivíduos que se mataram tinham algum transtorno mental, em muitos casos não diagnosticado, não tratado ou não tratado de forma adequada.
Os transtornos psiquiátricos mais comuns incluem depressão, transtorno bipolar, alcoolismo e abuso/ dependência de drogas, transtornos de personalidade e esquizofrenia. Pacientes com múltiplas comorbidades psiquiátricas têm um risco aumentado, ou seja: quanto mais diagnósticos, maior é a vulnerabilidade. Existem ainda fatores desencadeantes, como desesperança, impulsividade, isolamento social e falta de um sentido na vida.
Na grande maioria dos casos é possível identificar uma progressão que conduz uma pessoa desde a ideação (o pensar no ato) até a efetivação do suicídio: em um primeiro momento, não existe a ideia de se matar, mas sim um pensamento vago de que seria melhor morrer; depois, vem a ideação (o pensamento de se matar para aliviar seu sofrimento), seguida de pesquisas sobre como fazer isso; em muitos casos, a pessoa informa seus entes próximos e, por fim, executa o ato.
É possível interromper esse processo com orientações e tratamento médico e psicológico. Os familiares podem e devem falar sobre o assunto e tentar avaliar em que momento o paciente pode estar. Ao perguntar sobre o desejo de morrer não é indutor de suicídio. Muito pelo contrário, pois quando você dá oportunidade para a pessoa falar, ela conta com uma referência de acolhimento e auxílio que não tinha antes.
Os sinais de alerta incluem:
Falar sobre o suicídio (ou frases relacionadas, como “eu gostaria de estar morto” ou “eu não queria ter nascido”);
Ausência ou abandono de planos futuros; isolar-se de contato social; 
Apresentar grandes mudanças de humor (estar eufórico em um dia e profundamente desencorajado em outro); 
Ter atitudes arriscadas, como dirigir de forma imprudente ou entrar em brigas;
Dizer adeus aos amigos e familiares como se não fosse vê-las novamente.
Os sinais nem sempre são óbvios e podem variar. Não representam o diagnóstico em si, podendo nem estar presentes ou estar presentes e não indicarem necessariamente risco de suicídio. Mas como são comumente associados ao perfil, vale a pena observá-los. Alguns deixam suas intenções claras, enquanto outros mantêm os pensamentos suicidas e sentimentos ocultos.
O diálogo e a transparência são elementos fundamentais na prevenção. Ao falar com alguém que demonstra ideação suicida, devemos ter uma abordagem acolhedora e sem nenhum tipo de preconceito. É preciso ter interesse pleno em ajudá-la e fazer as perguntas que vão dimensionar em que fase do processo ela está. 
 Quando alguém nos procura para conversar sobre suas emoções, é importante nos mostrarmos disponíveis e não adiar ou arrumar desculpas para evitar o assunto, pois isso passa a ideia de que não nos preocupamos de verdade. Outra reação que deve ser evitada é o uso de expressões que diminuem o que ela sente, como “isso não é nada”, “tem gente em situação muito pior” ou que a façam se sentir ainda mais culpada, como “não avisei que isso ia acontecer?” ou “foi você que procurou isso”.
 Esse é um momento em que o paciente precisa de acolhimento, e não de repreensão. Será preciso muito mais do que uma única conversa. Você tem que mostrar que a pessoa pode contar com você para desabafar. Por isso, estabeleça o diálogo em locais fechados, de preferência em um ambiente confortável.
Se você quer estimular ou convencer alguém a buscar atendimento médico e psicológico, o primeiro passo é deixar claro que não há julgamento. É preciso mostrar ao paciente que a ideação é um sintoma de seu sofrimento, de forma que ele não se sinta invadido, oprimido ou envergonhado por esse desejo.Na maioria das vezes, não basta apenas recomendar que se busque um tratamento, é necessário conduzir a pessoa de forma que ela chegue ao atendimento: marcar uma consulta junto com ela, acompanhá-la no dia e se mostrar disponível para as orientações que o médico e/ou o psicólogo vão passar.
A resistência é um dos sinais iniciais que uma pessoa apresenta quando não aceita o tratamento. Muitas vezes, ela fará de tudo para manter distanciamento de todos, mesmo daqueles que só querem o seu bem. Uma boa opção é tentar levá-la a grupos e centros de ajuda. 
Nem sempre é fácil a decisão de buscar ajuda, pois ainda existe preconceito em relação aos psiquiatras e psicólogos. Talvez uma forma interessante seja dizer que quando você tem uma doença mais bem aceita pela sociedade, como diabetes, por exemplo, você procura um endocrinologista. Nesse caso, ela também precisa procurar um médico, pois o que ela está passando pode tanto ser controlado como se agravar.
A intervenção médica é muito eficaz para evitar o suicídio, seja porque a pessoa precisa ter uma escuta terapêutica ou porque ela precisa ser medicada. 
O diálogo é essencial, mas em muitos casos não substitui a necessidade de medicamentos. Se a pessoa sofre de um transtorno mental que exige intervenção farmacológica e não realiza o tratamento, esse ponto se torna um obstáculo para a prevenção. Dar apoio emocional e se mostrar disponível é fundamental, mas o paciente precisa de mais do que isso para se recuperar. 
Convencer alguém sobre a necessidade de tratamento é um processo que pode ser muito lento e envolve momentos de tensão, quebra de confiança e incertezas, por isso, quem estará ajudando, também pode buscar ajuda para si. 
Sentimentos de medo, culpa e raiva são comuns e saber lidar com cada um é muito importante para não tornar a situação ainda mais grave. Uma consulta médica ou psicológica pode ser benéfica para lhe orientar sobre como lidar com esses sentimentos e auxiliar o ente que está pensando em se matar.
Uma das maiores barreiras para a prevenção é o fato de que o assunto ainda é tabu. Por razões religiosas, morais e culturais, o suicídio por muito tempo foi visto como um pecado e um motivo de vergonha para a família daqueles que tiraram a própria vida. Na verdade, trata-se de um problema de saúde pública que ainda hoje não é cuidado de forma adequada, haja vista a tendência do Brasil de apresentar taxas crescentes de suicídio. Para combater o problema, é necessário um conjunto de ações.
 É imprescindível falar sobre o assunto de forma transparente, assim como deve acontecer com outros problemas sociais que sempre foram pouco debatidos e, aos poucos, passam a ser discutidos, como é o caso do bullying.
 Ainda existe um preconceito muito grande em relação à saúde mental de modo geral no Brasil no mundo. É importante falar sobre o assunto e encarar o transtorno mental como uma doença que precisa ser tratada.
Se você precisa de ajuda e quer conversar,procure um psicólogo ou entre em contato com CVV pelo número 188 ou pelo site https://www.cvv.org.br/. O atendimento funciona 24 horas por dia, todos os dias.

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