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sábado, 24 de outubro de 2009

Cigarro na Gravidez e Delinqüência Juvenil



Se já não bastassem todos os malefícios físicos e psicológicos trazidos ao recém-nascido e à criança no seu desenvolvimento, temos hoje, o conhecimento, através de vários estudos científicos metodologicamente corretos, que a exposição pré-natal do feto ao tabagismo materno durante a gravidez, está associada a uma maior chance de distúrbios de comportamento e do Transtorno da Hiperatividade com Déficit Atencional ( doença iniciada na infância que tem como principais características a impulsividade, agressividade, falta de atenção e concentração e hiperatividade) na adolescência, principalmente em meninos.

Esses comportamentos, chamados de disruptivos, favorecem a delinquência, a depressão, o suicídio e o uso de drogas entre adolescentes, sem dúvida alguma fatores geradores de culpa em algumas mães, dependendo de suas características de personalidade e relacionais.
Alguns estudos recentes têm examinado os antecedentes maternos de vários meninos pré-púberes com transtornos de conduta. Esses estudos acharam uma frequência maior de tabagismo materno durante a gravidez em 22% dos meninos com déficit atencional contra 8% dos chamados controles normais. Vários outros fatores foram controlados para não causarem distorções nos estudos, como por exemplo, condição sócio-econômica, inteligência dos pais e história parental de transtorno de conduta ou hiperatividade.
Wakschlag e colaboradores, em 1997, chegaram à conclusão que mulheres fumantes de mais da metade de um maço de cigarros por dia, eram mais propensas a terem filhos com distúrbio de conduta. Importante frisarmos que esses autores concluiram ser o tabagismo um fator de risco isolado para o distúrbio de conduta entre os adolescentes.
Pesquisadores da Suécia, em 1998, estudaram 62 crianças com Déficit Atencional e Hiperatividade, comparando-as com crianças normais. Eles acharam que no subgrupo de pré-púberes doentes havia o dobro de mães que tinham fumado durante a gravidez.
Outro estudo realizado por Fergusson e colaboradores, na Nova Zelândia, com 1265 indivíduos com idade variando entre 16-18 anos, concluiu que as crianças expostas à nicotina durante a gestação tinham maior prevalência de uso de drogas, distúrbios de comportamento e depressão.
O mais recente trabalho publicado sobre o tema, em 2005, no British Journal of Psychiatry, pesquisou 723 casais de gêmeos idênticos e 1173 não idênticos. Os pesquisadores associaram diretamente o fumo, durante gravidez, ao transtorno do déficit atencional e hiperatividade. Um outro trabalho de 2005, publicado na revista Pediatrics, também encontrou tal direção. Segundo este trabalho, as futuras mães correm um risco três vezes maior de ter filhos com transtornos de hiperatividade se fumarem durante a gravidez.
Há algumas hipóteses bem conduzidas, entre elas a de que a nicotina atuaria estimulando o sistema motivacional cerebral dopaminérgico (dopamina é uma substância química que comunica as células nervosas entre si) durante uma fase crítica do desenvolvimento cerebral do feto, o que predisporia tardiamente a um risco aumentado do uso de outras drogas na adolescência.
Portanto, embora estudos retrospectivos mereçam uma análise crítica mais rigorosa, a hipótese de que o tabagismo na gravidez predispõe a doenças mentais na infância e adolescência é bem razoável. A única dúvida que nos restaria seria em relação ao período de amamentação. Será que a exposição da criança à nicotina através do leite mateno não é o mais importante nesses efeitos?
De qualquer forma, programas de prevenção do tabagismo materno durante a gravidez devem ser incentivados, na Rede de Saúde Pública, pelos inúmeros malefícios que essa prática pode acarretar ao futuro jovem. Acho extremamente sensibilizador uma mulher ter o conhecimento de que a sua dependência de nicotina pode ser um dos fatores de risco para futuros delinquentes juvenis.

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