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sábado, 15 de novembro de 2014

Reiki e a Ciência


A evolução da tecnologia e o recente despertar da comunidade científica para um conceito mais abrangente de saúde — a meta é viver bem, e não somente debelar males — fizeram o reiki ganhar a atenção dos pesquisadores. Na americana Universidade de Virginia, por exemplo, uma revisão sobre sua influência na contenção da dor em pacientes com câncer ressaltou os resultados positivos. "São necessários levantamentos adicionais para confirmar os achados, mas a princípio o reiki foi bastante eficiente na redução do incômodo", concluíram os autores.

Mas será que ele ajudaria a combater o tumor em si? Segundo um trabalho do psicobiólogo Ricardo Monezi, da Universidade Federal de São Paulo, provavelmente sim. Ele aplicou o reiki em ratos e, na sequência, analisou suas células de defesa. "Em comparação com o grupo de controle, esses animais apresentaram um sistema imune mais agressivo contra a enfermidade. E nem precisamos falar que bichos não acreditam em reiki", ironiza. Verdade que o nosso organismo não é idêntico ao de roedores, contudo está aí um indicativo do poder da imposição de mãos.

O simples fato de crer que determinado procedimento acarretará uma melhora na saúde já leva o corpo a ter reações positivas. Por isso mesmo, em estudos sobre reiki com seres humanos, o desafio é justamente diferenciar o chamado efeito placebo de resultados eais. Em outras palavras, verificar se a prática incrementa a saúde por si só ou se um achado favorável é fruto apenas da força da imaginação.

Com isso na cabeça, Ricardo Monezi decidiu testar o verdadeiro potencial da técnica no alívio da tensão. Ele separou vinte e cinco idosos estressados para serem cuidados por terapeutas especializados em reiki. Outros vinte e cinco senhores na mesma situação receberiam, digamos, uma terapia falsa — os aplicadores simulavam os gestos e as posições das mãos, mas não haviam sido treinados e nem conheciam direito o reiki. Detalhe: nenhum dos participantes sabia da diferença entre os grupos. "Essa precaução evita que o placebo interfira nos dados encontrados, já que ambas as turmas imaginam estar recebendo reiki, quando somente uma está recebendo para valer", arremata Monezi.

Depois de oito sessões, Monezi analisou as estatísticas. Parece incrível, mas, embora todos os voluntários tenham relaxado, aqueles tratados por mestres de reiki relataram uma tranquilidade maior e duradoura. Além disso, os músculos da testa desse pessoal ficaram menos rígidos, outro sinal de que o nervosismo foi aplacado. Aliás, apesar de a avaliação ter sido realizada em indivíduos na terceira idade, é provável que jovens apresentem resultados similares.

Apoiados em uma metodologia parecida com essa, investigadores da Universidade de Granada, na Espanha, notaram que sujeitos hipertensos atenuaram o quadro com sessões regulares de reiki. "Também há trabalhos com diabete, epilepsia, depressão...", conta Monezi. "É óbvio que precisamos de mais informações, porém, ao que tudo indica, a técnica provoca bem-estar em vários níveis", defende. A médica Sandra Caires Serrano, diretora do Serviço de Cuidados Paliativos do Hospital A.C. Camargo, na capital paulista, completa: "O que ainda não se conhece é a forma como isso ocorre".
Certas teorias mencionam uma energia eletromagnética que seria canalizada pelos terapeutas. Outras sugerem que a física quântica estaria envolvida nesse fenômeno. Independentemente disso, o fato é que alguns pontos-chave do corpo, onde os cuidadores devem colocar as mãos durante uma sessão de reiki — os chacras —, coincidem com importantes glândulas. E talvez, só talvez, a energia atue nesses órgãos, ocasionando um equilíbrio geral.
Alternativa ou integrativa? 
O sucesso do reiki não justifica, sob nenhuma hipótese, seu uso no lugar da medicina tradicional. "O ideal é integrá-lo com abordagens convencionais", reforça Plínio Cutait, coordenador do Núcleo de Cuidados Integrativos do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo. Caso contrário, você corre o risco de não receber o tratamento adequado para um problema e, então, complicar-se sem necessidade. E isso, parece claro para todos, também está comprovado pela ciência.
Energia e religião 
Usar as mãos para emitir energia positiva não é um conceito exclusivo do reiki, que é uma terapia. A bênção cristã, o passe espírita e o johrei, entre outros rituais religiosos, também se valem desse preceito, apesar de terem filosofias bem diferentes. Há até quem especule que os milagres de Jesus seriam resultado de uma habilidade única de controlar a energia do Universo. Mas, entre tantas práticas com esse princípio, o reiki é uma das mais estudadas pela ciência.

sábado, 1 de novembro de 2014

Comportamento em sites de paquera



       
  
Onde encontrar o amor? "Numa fila de cinema, numa esquina ou numa mesa de bar", cantaria Frejat. Mas além dos points típicos de paquera, uma busca vem aumentando gradativamente, principalmente no Brasil: a internet. A possibilidade de encontrar a alma gêmea, a cara-metade, a outra metade da laranja ou simplesmente um caso passageiro se ampliou na rede mundial de computadores. Para citar um exemplo, de acordo com o site SocialBakers, especializado em estatísticas sobre o Facebook, maior rede social do mundo com quase 700 milhões de usuários, o país que teve o maior número de adesões ao Facebook em maio foi o Brasil, com mais de 1,94 milhões de novos usuários, representando, neste curto espaço de tempo, um crescimento de 11,37%, chegando a um total de 19,09 milhões de usuários nesta rede de relacionamento. O Brasil ainda representa menos de 3% do total de usuários do Facebook, mas a rede ganha cada vez internautas brasileiros e fica mais próximo do seu principal concorrente, De acordo com o site de estatísticas Alexa.com, que mede e estabelece um ranking de páginas na web por região e números de acesso, o Facebook está em terceiro lugar na lista dos sites mais acessados no país.
Com foco no universo dessas redes sociais que não param de crescer, a professora e coordenadora de Jornalismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Cristiane Henriques Costa, desenvolveu o projeto "P@r Perfeito – Exploração do universo virtual e das novas estratégias narrativas em mídias digitais". O estudo faz uso do método denominado netnografia, como tem sido chamado o ramo da etnografia que analisa o comportamento de indivíduos na internet e que consiste na inserção do pesquisador no ambiente do grupo investigado e exige uma combinação imersiva entre participação e observação cultural com relação às comunidades pesquisadas. O pesquisador deve ser reconhecido como um membro da cultura estudada.
Para realizar um levantamento abrangente deste universo, a pesquisadora infiltrou 25 alunos da Escola de Comunicação (ECO) da UFRJ com perfis falsos entre os mais diversos sites de paquera. O objetivo é fazer uma grande reportagem sobre a busca do amor no universo virtual. "Por ser um campo relativamente novo, é possível perceber o desenvolvimento de uma linguagem própria, o tipo de discurso, quase sempre autoenaltecedor por parte do locutor, a grande importância da imagem. Tudo isso se torna objeto de estudo. Pensar netnograficamente é entender como o discurso humano se comporta na cibercultura e nas comunidades virtuais, e as diversas possibilidades proporcionadas pela rede", explica a pesquisadora. O projeto tem apoio da FAPERJ por meio do programa de Auxílio Básico à Pesquisa (APQ 1).
Além de se passar por pessoas interessadas em relacionamentos nos mais diversos sites de paquera, a equipe também analisa os perfis e as fotos dos usuários. "Nem tudo pode ser levado ao pé da letra", adverte Cristiane. "Notamos que praticamente 100% das pessoas não fumam. Entre os homens, 80% dizem gostar de música clássica e artes plásticas e mais de 60% praticam esportes náuticos. Claro que isso não corresponde à verdade", assinala a pesquisadora. “São estratégias de sedução, para fugir aos filtros que os sites criam. Muitos usuários nem querem ter contato com quem fuma ou não gosta de artes, por exemplo.”




Existem sites de paquera para todos os gostos e preferências. Há os especializados em pessoas acima do peso, os só para amantes e até para aqueles com uma certa queda para o egoísmo têm um lugar na internet para encontrar sua cara-metade, como conta Cristiane. O site em questão é o Attlasphere, criado por fãs da escritora e dramaturga Ayn Rand, cujas obras pregam o individualismo, o egoísmo racional e o capitalismo (o nome é baseado na obra da autora, Atlas Shrugged). E quem está disposto a "pular a cerca", também pode se utilizar das facilidades da rede. O site Second Love é especializado em pessoas que já estejam em um relacionamento, mas querem conhecer outras também comprometidas, para dar um novo rumo à relação que vivenciam ou apenas para uma aventura virtual: ali, a infidelidade é declarada.
Amor e religião:
"O primeiro passo é orar; o segundo, procurar". Com este slogan, o site Amor em Cristo é voltado somente para os evangélicos. Nesse caso, parece que, além da ajuda das probabilidades, os adeptos parecem contar com uma força extra: a fé. O esquema parece estar funcionando muito bem: logo na entrada, é possível a qualquer visitante verificar os depoimentos de casais felizes que se formaram ali. "Uma das grandes particularidades deste site é que os evangélicos não entram nestes sites apenas para arrumar namorados: o objetivo é casar", conta a pesquisadora.



Outro site curioso é o eHarmony. Nele, o interessado precisa primeiro responder a um extenso e detalhado questionário, elaborado por psicólogos, que pode levar horas. Depois, só terá acesso aos integrantes que têm compatibilidade de perfil. "É muito interessante deixar que um algoritmo decida o seu futuro amoroso", comenta Cristiane. “É uma lógica diferente da maioria dos sites, que exibe fotos e mais fotos de pessoas desconhecidas, como numa vitrine virtual.” A ênfase no aspecto visual é a principal característica do site Beautiful People – do qual só participa gente bonita, selecionada de acordo com votação dos próprios participantes da comunidade virtual. O elitismo estético chegou ao extremo quando seus criadores decidiram fundar um banco virtual de esperma, denominado Beautiful Baby. "Isso foi denunciado pela imprensa americana e eles tiveram que voltar atrás, ao serem acusados de eugenia", conta a pesquisadora.
De acordo com Cristiane, os resultados têm sido muito ricos e satisfatórios. "As aulas têm sido bastante divertidas e toda a equipe está muito envolvida. Temos descoberto muitas informações novas e até quebrado alguns paradigmas", declara. Um deles, de acordo com a pesquisadora, é que na internet, o amor não tem idade. Como conta Cristiane, um aluno de 20 anos que está se passando por uma senhora de 60 já tem mais de dois pretendentes no site Broto Bacana. Voltado para pessoas com mais de 40 anos se relacionarem na rede, está sendo um grande sucesso. De acordo com Cristiane, os resultados da pesquisa até agora têm sido surpreendentes. “Toda a equipe está envolvida e se diverte muito. Temos descoberto sites que nunca imaginamos e até desfeito alguns preconceitos”, declara. “Os sites de paquera virtual ainda são vistos como um lugar de gente feia, esquisita e solitária. Temos constatado que isso não é verdade. Lógico que é preciso tomar cuidado para não cair em cilada, mas a rede é um lugar tão ou mais produtivo para se relacionar quanto uma festa ou uma boate”. Em geral, os próprios sites aconselham os usuários sobre como postar as melhores fotos, como se comportar e até como se precaver de perigos antes de se encontrar com estranhos.
As experiências dos estudantes nos sites de paquera estão sendo registradas em um diário de campo e em reportagens tradicionais, que serão publicadas no Jornal Laboratório da ECO. Boa parte já está pronta e pode ser acompanhada no blog do projeto. O resultado da pesquisa não será um livro tradicional, em papel. O trabalho será publicado um site e um aplicativo para tablets, como o iPad, para que o leitor não familiarizado com este universo possa visualizar as páginas da internet e acompanhar o trajeto dos infiltrados e suas conversas com usuários (que terão suas identidades protegidas). “É uma reportagem de imersão. Queremos dar a visão mais realista possível deste universo virtual, baseada não na ideia da representação, mas da simulação, como se o próprio leitor mergulhasse neste mundo paralelo”, explica a pesquisadora.

Fonte: FAPERJ

sábado, 25 de outubro de 2014

Acesso à justiça por parte das mulheres


A problemática do acesso à justiça foi pauta de discussão por
ocasião do XIII Curso Interdiscipliná rio em Direitos Humanos,
promovido pelo Instituto Interamericano de Direitos Humanos, em San
José, Costa Rica. Durante quinze dias do mês de agosto do ano 2000
militantes de direitos humanos provenientes de diversos países da
América Latina discutiram profundamente o tema na tentativa de
chegar a um consenso sobre causas e efeitos e, finalmente, soluções.

No tocante às causas observou-se duas vertentes intrinsecamente
interligadas – uma referente à condição sócio-economica dos povos
latino americanos, outra à própria constituição do judiciário, sua
estrutura, hierarquia, modus operandi, etc... Partindo-se de tais
vertentes, alguns pontos devem ser considerados clave no processo de
obstaculização do acesso à justiça na América Latina:

Existe um desconhecimento real por parte da população dos direitos
de que é detentora. No Brasil, muito embora nosso ordenamento
jurídico impeça a alegação de desconhecimento da lei para eximir-se
de seu cumprimento, este existe e acaba por obstaculizar o acesso à
justiça uma vez que não é possível pleitear-se algo que se
desconhece.

A par de tal desconhecimento e talvez em razão dele, existe também
uma descrença no judiciário; o complicado aparato judicial, seus
prazos e formalidades conciliados ao número cada vez maior de
processos – incompatível com os recursos disponíveis para a solução –
e a demora cada vez maior para a obtenção da prestação
jurisdicional acaba produzindo na população leiga, uma sensação de
que a justiça não a alcançará, fundamentando- se a máxima do " mais
vale um acordo que mover uma ação", abre-se mão, portanto, de
direitos e da via judicial para solução de problemas.

Atrelada a estes dois fatores seja como causa ou como consequência
dos mesmos, está a visão mercantilista que se tem da justiça,
relegando à mesma o papel de serviço a contemplar um consumidor.
Desta forma, não alcançará quem não pode pagar por este serviço, não
alcançará, portanto, o não consumidor.

O distanciamento do judiciário seja ele geográfico, seja ele
institucional, é relevante para a intensificação da problemática. Em
um país com as dimensões físicas do Brasil é evidente a
impossibilidade de abranger a totalidade do território e da
população garantindo-se seu acesso físico à justiça. Por outro lado,
há que se considerar também o distanciamento institucional do
judiciário. A própria arquitetura dos fóruns e tribunais, a
linguagem adotada, a vestimenta adotada, promovem este
distanciamento, mantendo os atores jurídicos cada vez mais afastados
dos " usuários" do judiciário.

Por fim, devemos considerar a pobreza como fator que permeia todos
os demais, qualquer obstáculo ao acesso à justiça é majorado pela
pobreza. A carência de elementos básicos para a sobrevivência como
saúde, educação, segurança, emprego, alimentação acaba por agudizar
a problemática – a não implementação dos direitos econômicos,
sociais e culturais majora qualquer problemática.

Se nos reportarmos às mulheres a questão se agrava, pois somado ao
desconhecimento, descrença, mercantilizaçã o, distanciamento e
pobreza está o tratamento desigual dispensado às mulheres em nossa
sociedade e em todas as sociedades, que reflete em um desigual
acesso de homens e mulheres à justiça.

O desconhecimento por parte de nós mulheres de nossos direitos em
relação aos homens é maior, aumentado em virtude da exclusão e
violência que vivenciamos cotidianamente. Também é maior a
descrença, e maior o número de mulheres não consumidoras e que
portanto não usufruem da justiça-serviç o, bem como, é maior o
distanciamento do judiciário em relação às mulheres enquanto poder
historicamente masculino, haja vista o reduzido número de mulheres
pertencentes à órgãos superiores de decisão.

Constatar esta desigualdade de tratamentos entre os gêneros, em
especial, com relação ao acesso das mulheres à justiça não basta,
suas causas devem ser compreendidas para que possamos, assim,
superar tal limitação. Uma análise das bases de nossa cultura e da
construção histórica dos papéis de gênero faz-se, portanto,
necessária.

Vivemos sob a égide de uma cultura patriarcal consolidada pela
civilização grega que foi o berço da cultura masculina, ocidental e
branca, difundida por toda Europa através do Império Romano e, com o
advento do mercantilismo, espalha-se por todo o mundo, sendo que nas
colônias é reforçado. No Brasil, logo que o colonizador chega inicia-
se o grande estupro étnico das índias e, posteriormente, os senhores
de engenho passam a estuprar as negras da senzala, criando-se, desde
o início, uma permissividade para a violência e o tratamento
desigual das mulheres, o que nos dias de hoje ainda se encontra
presente em nossa cultura, relegando às mulheres o papel de cidadãs
de segunda categoria e dificultando a fruição de seus direitos.

Por outro lado, cumpre também ressaltar o tratamento desigual
dispensado às mulheres pelo Judiciário brasileiro, pois, muito
embora, tenhamos, garantia constitucional de igualdade com os
homens, leis ordinárias tais como o Código Civil até janeiro deste
ano, quando foi promulgado o novo Código Civil Brasileiro, traziam
em seu bojo preceitos que determinavam a preponderância do sexo
masculino em relações de família, como ao determinar caber ao marido
o papel de "cabeça do casal", o direito de fixar o domicílio da
família, de administrar os bens do casal, preponderância do pátrio
poder, entre outras.

As conseqüências deste quadro de desigualdade afetam não só as
mulheres, vítimas diretas, mas toda a sociedade, gerando fenômenos
sociais como o empobrecimento das mulheres vítimas de violência –
dado do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) aponta que de
cada quatro mulheres que faltam ao serviço uma o faz por ter sido
vítima de violência doméstica. Percebem ainda as mulheres salários
inferiores aos homens no desempenho de funções idênticas, e é
crescente o número de famílias monoparentais, dirigidas por mulheres
que após a morte ou abandono do marido assumem sozinhas a manutenção
do lar e dos filhos.

Na década de 90 o movimento feminista lançou a campanha "Violência
contra a mulher: Uma questão de saúde pública", ao constatar que
mulheres vítimas de violência se socorrem mais vezes ao serviço de
saúde, têm mais doenças sexualmente transmissíveis, doenças pélvicas
inflamatórias, gravidez indesejada, abortos espontâneos, dores de
cabeça, problemas ginecológicos, abuso de drogas e álcool, doenças
gastrintestinais, hipertensão e depressão entre outras, gerando uma
grande demanda a um setor já sobrecarregado, e que poderia ser
evitada sanando-se a raiz do problema que é a violência doméstica.

Relevante ainda ressaltar que a perpetuação deste modelo patriarcal
gera filhas submissas e filhos agressores, os quais, em geral,
repetirão a problemática já apresentada ao reproduzir os papéis
paternos, criando-se assim, um ciclo vicioso. Nesse sentido, afirma
o jurista Fábio Konder Comparato que "... a discriminação fundada
na diferença de sexo, raça ou cultura não ofende apenas os
discriminados: ela fragiliza a sociedade como um todo" [2]. No caso
específico da mulher esta afirmação é de fácil comprovação, uma vez
que ela é a porta voz de uma família fragilizada.

As mulheres brasileiras vivenciam, pois, no dia a dia, uma situação
de desigualdade com os homens, que obstaculiza a fruição dos
direitos de que são detentoras. Todavia, apesar desta vivência, não
possuem uma clara percepção de sua realidade, uma vez que a própria
situação de discriminação e violência que vivem acaba por afastá-las
de informações que lhes permita compreender a amplitude da
problemática, e enfraquece, portanto, uma reação. Exceção cabe ao
movimento de mulheres, que discute e estuda a problemática buscando
soluções através de pressão junto aos órgãos de poder, bem como,
junto à sociedade, através de campanhas educacionais e de
conscientizaçã o que visam desconstruir o modelo patriarcal.

Os demais setores da sociedade, apesar de também afetados por este
quadro de desigualdade, da mesma forma não têm clareza e compreensão
da problemática vivida pelas mulheres. Há um entendimento corrente
de que vivemos uma fase de pós feminismo, que a questão da mulher já
teria sido solucionada, não tendo mais razão de ser a discussão
acerca da discriminação. Trata-se a questão como se, após a
promulgação da Constituição Federal de 1988, e, portanto da
declaração expressa da igualdade entre os sexos, a desigualdade de
gênero não mais existisse, ficando, por conseguinte, prejudicada a
discussão sobre o tema e enfraquecidos os esforços empenhados pelo
movimento de mulheres na realização de suas propostas.

Sob a perspectiva dos direitos humanos, está expressamente disposto
na Declaração de Viena, de 1993, que os direitos das mulheres são
parte inalienável, integral e indivisível dos direitos humanos
universais. Não há assim como conceber os direitos humanos sem que
os direitos das mulheres sejam respeitados. Acrescentou ainda a
Declaração de Viena que a violência contra a mulher constitui
violação aos direitos humanos, que atenta contra a dignidade humana.

O Programa Nacional de Direitos Humanos, adotado em 1996, destaca,
dentre as metas a serem cumpridas pelo Governo Brasileiro, as
seguintes:

a) apoiar o Programa Nacional de Combate à Violência contra
a Mulher, do Governo Federal;

b) incentivar a criação de centros de assistência a mulheres
sob risco de violência doméstica e sexual;

c) apoiar as políticas dos governos estaduais e municipais
para a prevenção da violência doméstica e sexual contra as mulheres;

d) incentivar a pesquisa e divulgação de informações sobre a
violência contra a mulher e sobre formas de proteção e promoção dos
direitos da mulher;

e) reformular as normas de combate à violência e
discriminação contra as mulheres, em particular, apoio ao projeto do
Governo que trata o estupro como crime contra a pessoa.

A par destes fatos, o Estado Brasileiro tem ainda o dever de cumprir
o disposto nas duas convenções internacionais de direitos humanos
das mulheres por ele ratificadas, ou seja, a Convenção sobre a
Eliminação de todas as Formas de Discriminação contra a Mulher
aprovada pela ONU (Organização das Nações Unidas) em 1979 e
ratificada pelo Brasil em 1984 e a Convenção Interamericana para
Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher ("Convenção
de Belém do Pará") editada no âmbito da OEA (Organização dos estados
Americanos), em 1994 e ratificada pelo Brasil em 1995.

A responsabilizaçã o pela discriminação vivenciada pelas mulheres
brasileiras, portanto, é menos uma questão de insuficiência de
legislação pertinente, e mais de uma construção histórica que acabou
por ocasionar a exclusão das mulheres dos espaços de decisão e,
portanto, de uma situação igualitária que preserve sua dignidade. O
que vale dizer: ser mulher é ainda fator de discriminação que se
reflete nas práticas sociais e institucionais, em especial no acesso
à justiça!

Temos, como já demonstrado, farta legislação, tanto no âmbito
nacional como no internacional a amparar os direitos da mulher.
Todavia, permanecem as dificuldades de acesso à justiça por parte
das mulheres, bem como o tratamento desigual destas perante o
Judiciário, que ainda hoje, às portas do século XXI, encontra-se
impregnado com os valores patriarcais, orientando suas decisões,
muitas vezes, a partir de preconceitos, estereótipos e
discriminações sociais em relação às mulheres, o que contribui
sobremaneira para a manutenção da problemática.

Por fim, devemos ainda levar em conta os aspectos sociais que cercam
a questão, muito embora devamos ressalvar que a exclusão e violência
contra as mulheres seja um fenômeno "perversamente democrático" que
atinge mulheres de todas as classes sociais , raças e credos. Na
prática, assistimos mulheres que não podem trabalhar por não terem
onde deixar seus filhos, uma vez que faltam creches; outras que
perdem o emprego ao levar o filho ao médico e ficar por horas em uma
fila do serviço público de saúde; a falta de estudo destas mulheres
acaba por desqualificá- las para pleitear um emprego melhor e assim
melhorar as condições de vida sua e de toda a família. Praticamente
inexistem políticas públicas que contemplem a questão da mulher,
embora esteja expressa na Convenção sobre a Eliminação de Todas as
Formas de Discriminação contra a Mulher a possibilidade
de "Discriminação Positiva", proposta pela em seu art. 4. º , que
assim dispõe:

1. A adoção pelos Estados-partes de medidas especiais de
caráter temporário destinadas a acelerar a igualdade de fato entre o
homem e a mulher não se considerará discriminação na forma definida
nesta Convenção, mas de nenhuma maneira implicará, como
consequência, a manutenção de normas separadas; essas medidas
cessarão quando os objetivos de igualdade de oportunidade e
tratamento houverem sido alcançados.

2. A adoção pelos Estados-partes de medidas especiais,
inclusive as previstas nesta Convenção, destinadas a proteger a
maternidade, não se considerará discriminatória.

Atitudes foram tomadas e ainda o são pelo movimento feminista, que
sempre exerceu e ainda exerce uma pressão significativa no sentido
de implementar um fortalecimento da cidadania das mulheres e, via de
regra, seu acesso à justiça. Papel de destaque cabe também às
organizações não-governamentais (ONG's) que trabalham não só na
modificação das estruturas sociais construídas, como também junto à
população, através de atitudes concretas como o atendimento jurídico
a mulheres vítimas de violência e necessitadas de amparo legal. Este
trabalho é desenvolvido sob uma ótica de gênero, que procura não
apenas solucionar o problema imediato daquela mulher, mas também
capacitá-la para compreender a complexidade da situação do feminino,
possibilitando- lhe adotar uma nova atitude frente à vida e à
sociedade, ficando, pois, fortalecida.

Campanhas institucionais que contemplem a questão da mulher também
são de grande valia no sentido de despertar a sociedade para o tema,
trazendo à tona a discussão.

Foi através do trabalho das ONG's e do movimento feminista que
atingimos a igualdade jurídica na Constituição de 1988. A pressão
exercida por estes segmentos foi fundamental também no sentido do
Estado Brasileiro ratificar os tratados internacionais de direitos
humanos que contemplam a questão das mulheres, mas, conforme já
mencionado, ainda estamos distantes da igualdade concreta, e ainda
existe um longo caminho a ser percorrido neste sentido. Merece
destaque, pois, os esforços desprendidos no sentido de dar
visibilidade à problemática vivenciada pelas mulheres, levando desta
forma a sociedade, ou pelo menos uma parcela desta, a uma reflexão
acerca dos modelos de comportamento adotados e as conseqüências
destes modelos para toda a população.

O Projeto Promotoras Legais Populares, desenvolvido em Porto Alegre
pela Thêmis - Assessoria Jurídica e Estudos de Gênero e em São Paulo
através de uma parceria entre o IBAP - Instituto Brasileiro de
Advocacia Pública e a União de Mulheres de São Paulo, bem como em
São José dos Campos e Taubaté pelo SOS Mulher em parceria com estas
mesmas entidades, pode ser considerado uma experiência exitosa no
tocante ao acesso das mulheres à justiça.

Este projeto se iniciou em maio de 1992, quando a União de Mulheres
de São Paulo e a Thêmis participaram de um seminário sobre os
direitos da mulher promovido pelo CLADEM - Comitê Latino Americano e
do Caribe de Defesa dos Direitos da Mulher.

Foi nessa oportunidade que ouviram falar pela primeira vez dos
cursos de "capacitação legal" das mulheres. Estes cursos já vinham
se desenvolvendo há pelo menos uma década em alguns países da
América Latina, como Peru, Argentina e Chile e se propunha a
promover o conhecimento das leis às mulheres e dos mecanismos
jurídicos possíveis de acenar e viabilizar. Bem como abria o debate
sobre os mecanismos jurídicos para entender como funciona a justiça
e ainda à percepção do quanto ela está submetida a um estereótipo de
vítima e réu (ré) que corresponde a uma ideologia patriarcal, onde
os crimes contra a mulher são banalizados e considerados menores.

No ano de 1993, a Thêmis – ONG feminista sediada em Porto Alegre e
composta principalmente por advogadas, iniciou naquela cidade o
curso.

A União de Mulheres de São Paulo, por não contar com um núcleo
jurídico, passou a buscar uma parceria com esta "expertise".
Finalmente, em 1994, a convite da então Coordenadora do Centro de
Estudos da PGE, Norma Kiriakos, realizou-se, no próprio Centro, um
seminário de introdução ao Projeto Promotoras Legais Populares que
contou com a participação da Thêmis do então "IPAP - Instituto
Paulista de Advocacia Pública" hoje IBAP – Instituto Brasileiro de
Advocacia Pública.

No ano seguinte, o IBAP abriu suas portas e passou a sediar o curso
nas manhãs de sábado e desde então, a parceria com a União de
Mulheres de São Paulo a cada ano torna-se mais consistente.

A convergência de idéias norteadoras do projeto com a atividade
exercida pelos advogados públicos democratas associados ao IBAP, que
reúne tanto advogados que têm por função a defesa da população
carente (defensores públicos e procuradores de assistência
judiciária) como aqueles que promovem a tutela jurídica do
patrimônio público (procuradores do estado, do município e da união)
apenas contribui para a obtenção de resultados exituosos. E foi a
partir desta parceria que outras entidades iminentemente jurídicas
passar a participar o Projeto, entre elas, a Associação de Juízes
para a Democracia e o Movimento do Ministério Público Democrático.

Estabeleceu- se então um conteúdo que abordava desde a teoria da
aprendizagem até conceitos como direito, direitos humanos e tratados
internacionais, direitos e garantias constitucionais, e direitos na
área da família, trabalhista, previdenciária e penal.

O propósito do curso de Promotoras Legais Populares é de capacitar
mulheres, de preferência lideranças, para que conheçam seus direitos
e que sejam comprometidas não só em mobilizar outras mulheres para a
ação em defesa de seus direitos, como também atuar junto às
instâncias policiais e judiciárias para buscar soluções concretas.

O maior desafio encontrado foi a busca de uma síntese entre a
educação popular, o conceito de relações de gênero e o formalismo do
direito e da lei. Por este motivo, foi aprofundado o conteúdo e
desenvolvida com habilidade uma metodologia capaz de integrar
prática e teoria sob uma perspectiva crítica do direito tradicional
e do funcionamento burocratizado das instituições.

Persegue o projeto Promotoras Legais Populares a implementação
efetiva dos direitos das mulheres internacionalmente garantidos. E,
para caminhar no sentido da efetivação destes direitos, é
absolutamente necessário o seu desvendamento.

Quando as mulheres são capazes de reconhecer direitos, suas
violações e a existência de instrumentos jurídicos capazes de
produzir alguma reparação, sentem-se fortalecidas para o exercício
de sua cidadania. Exerce a educação, portanto, neste sentido, um
papel fundamental, uma vez que se faz necessária uma educação
fortalecedora da cidadania e formadora de uma consciência para o
exercício e a defesa de direitos.

O projeto situa-se, portanto na área da educação para o efetivo
exercício dos direitos das mulheres que já estão em boa parte
legislados, porém não implementados e objetiva desenvolver uma
demanda social qualificada, juntamente com a sensibilização dos
operadores do direito para o recebimento destas demandas.

O projeto compreende, ainda, a formação dos educadores, que se dá,
primeiramente, num momento distinto de formação e continua durante
todo o processo, dialeticamente. Isto porque se acredita que o
conhecimento se dá numa contínua troca de "saberes", onde educador e
educando exercem papéis igualmente importantes.

A concepção de educação incorpora os ensinamentos pedagógicos de
Paulo Freire. E o projeto se realiza sob a ótica da educação
problematizadora, onde o(a) educador(a) já não é o(a) que apenas
educa, mas o(a) que, enquanto educa é educado(a), em diálogo com o
(a) educando(a) que ao ser educado(a) também educa. Assim, ambos se
tornam sujeitos do processo em que crescem juntos e em que
os "argumentos de autoridade" já não valem.[3]

Entende por fim, o Projeto Promotoras Legais Populares, que através
de um processo educativo transformador da realidade, voltado para as
necessidades concretas das educandas, possamos alcançar mudanças no
modelo social discriminador, violento e excludente.

Os êxitos do Projeto são vários. Além do fortalecimento de
lideranças, fornecendo-lhes ferramentas para o aprimoramento do
trabalho que já desenvolvem junto à sociedade, cabe destaque a
formação de gênero destas lideranças e ainda a quantidade de pessoas
atingidas com a multiplicação destas informações, ressaltando- se,
portanto, o papel da educação na transformação da sociedade.

Apresenta ainda o projeto alguns resultados concretos, como a
criação de núcleos de Promotoras Legais Populares em São Paulo que
prestam atendimento integral a mulheres, o Centro Dandara de
Promotoras Legais Populares em São José dos Campos, que congrega ex-
alunas e os SIM's - Serviços de Infromação à Mulher de Porto Alegre
onde as próprias Promotoras Legais Populares atendem à população de
suas comunidades.

Projetos similares vêm sendo desenvolvidos em vários locais, entre
eles o Curso de Agentes Multiplicadores da Cidadania realizado em
municípios paulistas pela Secretaria de Justiça e Defesa da
Cidadania do Estado de São Paulo, e o Curso de Meio Ambiente e
Gênero realizado pelo IBAP, União de Mulheres e SOS Mulher que
prioriza a questão ambiental.

E ainda, a atuação de Promotoras Legais Populares na área da saúde,
educação, movimentos sindicais e de classe, junto ao judiciário, na
promoção de debates, seminários, fóruns acerca de assuntos
relevantes para a questão da mulher e em projetos de geração de
renda como a usina de reciclagem de lixo de Porto Alegre que hoje
emprega ---- mulheres.

Cumpre destacar um caso concreto desenvolvido pelas promotoras
legais populares, o qual que obteve grande repercussão junto ao
Judiciário. Tratava-se do caso de uma mulher que havia sido
estuprada no local de trabalho pelo filho do patrão. Ao procurar as
Promotoras Legais, foi orientada não só a tomar as medidas criminais
(intentar processo crime contra o agressor), bem como as cíveis
(pedido de indenização civil pelos prejuízos sofridos), e
trabalhistas cabíveis, mas foi também orientada a pleitear uma ação
acidentária, uma vez que o estupro havia sido cometido no local de
trabalho. O Judiciário acatou o pedido, reconhecendo como sendo
acidente do trabalho o estupro cometido no local de trabalho. Tal
entendimento nunca havia sido adotado, sequer levantado em processos
similares e sua adoção abriu precedente junto ao judiciário, podendo
assim, a partir de então, ser aplicado tal entendimento a outros
casos similares.

A atuação das Promotoras Legais Populares não se restringe ao âmbito
local. As duas primeiras denúncias internacionais de violação de
direitos das mulheres encaminhadas à Comissão Interamericana de
Direitos Humanos pelo CLADEM Brasil e a União de Mulheres de São
Paulo, com base na Convenção de Belém do Pará, os casos de Delvita
Silva Prates e de Márcia Cristina Leopoldi que foram barbaramente
assassinadas sem que houvesse qualquer responsabilizaçã o, no âmbito
brasileiro, dos autores de brutal violência, foram amplamente
discutidos pelas Promotoras Legais Populares, que os acompanham até
o momento.

Como proposta de acesso à justiça o Projeto Promotoras Legais
Populares vai de encontro aos cinco pontos clave obstaculizantes
deste acesso e figura entre as soluções viáveis para à problemática.

A democratização de noções básicas de direito promovida pelo projeto
fomenta o reconhecimento por parte das mulheres dos direitos de que
são titulares. A consciência desta titulariedade e dos meios de
efetivá-la minimiza a descrença no judiciário bem como, devolve à
justiça o caráter de Poder Público e não de serviço, supre
distancias institucionais e cria ainda condiçoes para reivindicação
de meios de supressão também das distâncias físicas.

A questão da pobreza como entrave à justiça, embora não solucionada
é minimizada, uma vez que o projeto Promotoras Legais Populares
trabalha fundamentalmente com lideranças comunitárias, a maior parte
destas lideranças de baixa renda, tornando-se portanto, porta de
acesso destas mulheres aos espaços de conhecimento e reconhecimento
de direitos e leis. Neste momento tal mulher faz-se portadora e
multilplicadora do conhecimento, transportando- o consigo e assim
alterando distâncias institucionais e geográficas – inicia-se
portanto, a construção de um nova paradigma.

E mais, traz o projeto para a pauta de discussão a questão dos
direitos humanos, que passam a integrar o nosso cotidiano, de uma
forma peculiar, sob o nosso ponto de vista. A importância deste
olhar feminino aos direitos humanos fica clara quando observamos que
através da história a prática dos direitos humanos se mostrou
deficiente no reconhecimento das violações de direitos em que ser
mulher é fator de risco. Discutir os direitos humanos das mulheres é
uma forma de oferecer uma oportunidade à sociedade de entender que
a exclusão e violência contra as mulheres representam violação de
direitos humanos de toda a humanidade.

Experiências que trabalham com a educação em direitos humanos como o
Projeto Promotoras Legais Populares bem como, processos de
sensibilização e de capacitação de operadores do Direito são
exitosas uma vez que despertam o pensar e o desenvolvimento do senso
crítico e possibilitam o agir consciente capaz de desconstruir para
construir. São o primeiro passo para que possamos fazer essa longa
travessia de uma cultura de violência para uma cultura de direitos
humanos, despertando a solidariedade. Pois, como dizia Franco
Montoro:
Não basta ensinar direitos humanos.
É preciso criar uma cultura prática destes direitos.
 As palavras voam. Os escritos permanecem.
Os exemplos arrastam.

sábado, 11 de outubro de 2014

Organize sua vida

1- Acorde cedo o suficiente para se arrumar e tomar café com calma. Aqueles cinco minutos a mais na cama podem provocar pressa e atrasos desnecessários.
 2- Tente ao máximo encurtar as distâncias. Principalmente nas grandes cidades, procure morar perto do trabalho, da escola, do centro comercial. E se possível faça esses caminhos a pé.
 3- Não subestime o tempo do relógio e reserve mais tempo para seus compromissos do que habitualmente calcula. Isso promove chegadas e saídas menos apressadas.
 4- Não é possível estar em dois lugares ao mesmo tempo. Só aceite os convites que realmente valem a pena e, ao incluir um novo compromisso na agenda, abra mão de outro menos importante.
  5- Não atenda ao telefone enquanto faz outra atividade. Em geral, a simultaneidade implica em não concentrar atenção, provocando falhas e até acidentes.
6- Aproveite momentos clássicos de "perder tempo" _fila do banco, espera do dentista, trânsito _ para organizar o dia, ouvir boa música, rezar, pensar em coisas boas.
 7- Evite brigas e desentendimentos. Ao marcar um encontro, certifique-se se a pessoa costuma ser pontual ou não e, se for o caso, relaxe na espera.
 8- Reserve um tempo para se cuidar, prestando atenção no jeito que penteia o cabelo, escova os dentes, come... Faça isso no seu ritmo, sem se preocupar em terminar rápida ou lentamente.
 9- Na maioria das vezes ganhar tempo é ilusão. Antes de obedecer ao ditado: "Não deixe para amanhã o que pode fazer hoje", pergunte-se: "Vou aproveitar esses minutos ganhos com que me dá prazer?" Se a resposta for não, vá devagar...
 10- Faça pequenas pausas, quando o ritmo de trabalho apertar. Respire, espreguice, caminhe e pense em coisas que tragam alegria.
11- Tente não se contaminar com a ansiedade alheia, principalmente nas horas de rush. E não apresse quem convive com você, especialmente crianças.
12- Permita-se ser diferente da turma. Não tente acompanhar o ritmo coletivo 24 horas por dia.
13- Aproveite os momentos de calma na cidade, por exemplo, as manhãs de domingo. Experimente curtir um banho, uma caminhada, a leitura do jornal demorando o dobro do tempo normal.
14- Viaje para onde haja um ritmo diferente do da sua cidade, no mínimo a cada dois meses. Experimente a rotina do lugar. Se você vive na metrópole, vá para o campo ou praia. Se vive no interior, vá para um centro urbano.
15- Confie que tudo vem ao seu tempo e acredite: a pressa é inimiga da perfeição, do bom humor e das boas energias!

sábado, 4 de outubro de 2014

Feminicídio

Comumente, os termos feminicídio e femicideo são usados como sinônimos para a morte de mulheres  em razão de seu sexo. No entanto, há uma grande discussão, tanto teórica quanto de ativistas de movimentos feministas, quanto a utilização indiscriminada do termo.
Acrescentan-se a ele uma significação política: a de genocídio contra as mulheres.
Feminicídio é algo que vai além da misoginia, criando um clima de terror que gera a perseguição e morte da mulher a partir de agressões físicas e psicológicas dos mais variados tipos, como abuso físico e verbal, estupro, tortura, escravidão sexual, espancamentos, assédio sexual, mutilação genital e cirurgias ginecológicas desnecessárias, proibição do aborto e da contracepção, cirurgias cosméticas, negação da alimentação, maternidade, heterossexualidade e esterilização forçadas. Constitui uma categoria sociológica claramente distinguível e que tem adquirido especificidade normativa a partir da Convenção de Belém do Pará,Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher, adotada pela (OEA) em 09 de junho de 1994 e ratificada pelo Brasil em 27 de novembro de 1995.
A tentativa de Marcela Lagarde de separar as duas definições não foi efetiva, tendo em vista que os dois termos são usados indistintamente nos trabalhos sobre o tema. De maneira política, as duas categorias, femicídio e feminicídio, têm sido utilizadas para descrever e denunciar mortes de mulheres em diferentes contextos sociais e políticos. Há autores que consideram “feminicídio” como uma variante de “femicídio”, tendo em vista que a definição inicial é bastante abrangente. 
Características do femicídio ou feminicídio:
- São mortes intencionais e violentas de mulheres em decorrência de seu sexo;
- Não são eventos isolados na vida das mulheres, porque são resultado das diferenças de poder entre homens e mulheres nos diferentes contextos sócio-econômicos em que se apresentam e, ao mesmo tempo, condição para a manutenção dessas diferenças.
Para a qualificação de femicídios é necessária a superação de duas dificuldades: a distinção entre os femicídios e os crimes passionais e a demonstração de que as mortes de mulheres são diferentes das mortes que decorrem da criminalidade comum, em particular das mortes provocadas por gangues e quadrilhas.
Uma das grandes dificuldades para se qualificar os crimes de gênero é a falta de dados oficiais que permita se conhecer o número de mortes de mulheres e os contextos em que elas ocorrem. Outra dificuldade é a ausência da figura jurídica “femicídio” na grande maioria dos países, inclusive no Brasil.
Femicídios ou feminicídios devem ser distinguidos dos crimes de gênero que são praticados contra a mulher em ambientes privados, por abusadores conhecidos de suas vítimas. A exploração das causas e dos contextos em que são cometidos esses crimes e a identificação das relações de poder que levam ao seu acontecimento.

Tipos de feminicídio:

Femicídio íntimo: aqueles crimes cometidos por homens com os quais a vítima tem ou teve uma relação íntima, familiar, de convivência ou afins. Incluem os crimes cometidos por parceiros sexuais ou homens com quem tiveram outras relações interpessoais tais como maridos, companheiros, namorados, sejam em relações atuais ou passadas;
• Femicídio não íntimo: são aqueles cometidos por homens com os quais a vítima não tinha relações íntimas, familiares ou de convivência, mas com os quais havia uma relação de confiança, hierarquia ou amizade, tais como amigos ou colegas de trabalho, trabalhadores da saúde, empregadores. Os crimes classificados nesse grupo podem ser desagregados em dois subgrupos, segundo tenha ocorrido a prática de violência sexual ou não.
Femicídios por conexão: são aqueles em que as mulheres foram assassinadas porque se encontravam na “linha de fogo” de um homem que tentava matar outra mulher, ou seja, são casos em que as mulheres adultas ou meninas tentam intervir para impedir a prática de um crime contra outra mulher e acabam morrendo. Independem do tipo de vínculo entre a vítima e o agressor, que podem inclusive ser desconhecidos. 
História :
A expressão femicídio – ou femicide como formulada originalmente em inglês – é atribuída a Diana Russel, que a teria utilizado pela primeira vez em 1976, durante um depoimento perante o Tribunal Internacional de Crimes contra Mulheres, em Bruxelas.
A categoria “femicídio” ou “feminicídio” ganhou espaço no debate latino-americano a partir das denúncias de assassinatos de mulheres em Ciudad Juarez – México, onde, desde o início dos anos 1990, práticas de violência sexual, tortura, desaparecimentos e assassinatos de mulheres têm se repetido em um contexto de omissão do Estado e consequente impunidade para os criminosos, conforme denúncia de ativistas políticas.
Em relação à bibliografia disponível sobre a temática do feminicídio, grande parte do material é composta de relatórios feitos por ONGs Feministas e agências internacionais de defesa dos direitos humanos, como a Anistia Internacional  e outras. São trabalhos cujo objetivo é dar visibilidade a essas mortes e cobrar dos Estados o cumprimento dos deveres assumidos na assinatura e ratificação de convenções e tratados internacionais para a defesa dos direitos das mulheres.. Na América Latina, as duas principais convenções são a Convenção de Belém do Pará e a Convenção para Eleminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres.

sábado, 20 de setembro de 2014

Transtorno Bipolar

A característica essencial do Transtorno Bipolar I é um curso clínico caracterizado pela ocorrência de um ou mais Episódios Maníacos ou Episódios Mistos. Com freqüência, os indivíduos também tiveram um ou mais Episódios Depressivos Maiores.

Os Episódios de Transtorno do Humor Induzido por Substância (devido aos efeitos diretos de um medicamento, outros tratamentos somáticos para a depressão, uma droga de abuso ou exposição a uma toxina) ou de Transtorno do Humor Devido a uma Condição Médica Geral não devem ser contabilizados para um diagnóstico de Transtorno Bipolar I.

Além disso, os episódios não são melhor explicados por Transtorno Esquizoafetivo nem estão sobrepostos a Esquizofrenia, Transtorno Esquizofreniforme, Transtorno Delirante ou Transtorno Psicótico Sem Outra Especificação.

Características e Transtornos Associados:  
Características descritivas e transtornos mentais associados. O suicídio completado ocorre em 10 a 15% dos indivíduos com Transtorno Bipolar I. Abuso da criança, abuso do cônjuge ou outro comportamento violento pode ocorrer durante Episódios Maníacos severos ou com aspectos psicóticos.

Outros problemas associados incluem gazeta à escola, repetência, fracasso profissional, divórcio ou comportamento anti-social episódico. Outros transtornos mentais associados incluem Anorexia Nervosa, Bulimia Nervosa, Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade, Transtorno de Pânico, Fobia Social e Transtornos Relacionados a Substâncias.

Achados laboratoriais associados:
Aparentemente não existem características laboratoriais que possam diferenciar os Episódios Depressivos Maiores encontrados no Transtorno Depressivo Maior daqueles existentes no Transtorno Bipolar I.

Achados ao exame físico e condições médicas gerais associadas:  
Uma idade de início para o primeiro Episódio Maníaco após os 40 anos deve alertar o clínico para a possibilidade de que os sintomas sejam devido a uma condição médica geral ou uso de substância. Existem algumas evidências de que uma doença da tireóide não tratada piora o prognóstico de Transtorno Bipolar I.

Características Específicas à Cultura, à Idade e ao Gênero:  Não existem relatos de uma incidência diferencial de Transtorno Bipolar I com base em raça ou etnia. Existem algumas evidências de que os clínicos podem tender a superdiagnosticar Esquizofrenia (ao invés de Transtorno Bipolar) em alguns grupos étnicos e em indivíduos mais jovens.

Aproximadamente 10 a 15% dos adolescentes com Episódios Depressivos Maiores recorrentes evoluem para um Transtorno Bipolar I. Episódios Mistos parecem ser mais prováveis em adolescentes e adultos jovens do que em adultos mais velhos.

Estudos epidemiológicos recentes nos Estados Unidos indicam que o Transtorno Bipolar I é quase tão comum em homens quanto em mulheres (diferentemente do Transtorno Depressivo Maior, que é mais comum em mulheres). O gênero parece estar relacionado à ordem de aparecimento dos Episódios Maníaco e Depressivo Maior.

O primeiro episódio em homens tende mais a ser um Episódio Maníaco. O primeiro episódio em mulheres tende mais a ser um Episódio Depressivo Maior. As mulheres com Transtorno Bipolar I têm um risco aumentado para o desenvolvimento de episódios subseqüentes (em geral psicóticos) no período pós-parto imediato. Algumas mulheres têm seu primeiro episódio durante este período.

O especificador Com Início no Pós-Parto pode ser usado para indicar que o início do episódio ocorre dentro de 4 semanas após o parto. O período pré-menstrual pode estar associado com a piora de um Episódio Depressivo Maior, Maníaco, Misto ou Hipomaníaco em andamento.

Prevalência:
A prevalência do Transtorno Bipolar I durante a vida em amostras comunitárias tem variado de 0,4 a 1,6%.

Curso:
O Transtorno Bipolar I é um transtorno recorrente — mais de 90% dos indivíduos que têm um Episódio Maníaco Único terão futuros episódios.

Aproximadamente 60 a 70% dos Episódios Maníacos freqüentemente precedem ou se seguem a Episódios Depressivos Maiores em um padrão característico para a pessoa em questão.

O número de episódios durante a vida (tanto Depressivos quanto Maníacos) tende a ser superior para Transtorno Bipolar I, em comparação com Transtorno Depressivo Maior Recorrente. Estudos do curso do Transtorno Bipolar I antes do tratamento de manutenção com lítio sugerem que, em média, quatro episódios ocorrem em 10 anos.

O intervalo entre os episódios tende a diminuir com a idade. Existem algumas evidências de que alterações no ciclo de sono/vigília tais como as que ocorrem durante as mudanças de fuso horário ou privação do sono, podem precipitar ou exacerbar um Episódio Maníaco, Misto ou Hipomaníaco.

Aproximadamente 5 a 15% dos indivíduos com Transtorno Bipolar I têm múltiplos (quatro ou mais) episódios de humor (Episódio Depressivo Maior, Maníaco, Misto ou Hipomaníaco), que ocorrem dentro de um determinado ano. Se este padrão está presente, ele é anotado pelo especificador Com Ciclagem Rápida. Um padrão de ciclagem rápida está associado com um pior prognóstico.

Embora a maioria dos indivíduos com Transtorno Bipolar I retorne a um nível plenamente funcional entre os episódios, alguns (20 a 30%) continuam apresentando instabilidade do humor e dificuldades interpessoais ou ocupacionais. Sintomas psicóticos podem desenvolver- se dentro de dias ou semanas em um Episódio Maníaco ou Episódio Misto anteriormente não-psicótico.

Quando um indivíduo tem Episódios Maníacos com aspectos psicóticos, os Episódios Maníacos subseqüentes tendem mais a ter aspectos psicóticos. A recuperação incompleta entre os episódios é mais comum quando o episódio atual é acompanhado por aspectos psicóticos incongruentes com o humor.

Padrão Familiar:  Os parentes biológicos em primeiro grau de indivíduos com Transtorno Bipolar I têm índices elevados de Transtorno Bipolar I (4 a 24%), Transtorno Bipolar II (1 a 5%) e Transtorno Depressivo Maior (3 a 24%). Estudos de gêmeos e de adoções oferecem fortes evidências de uma influência genética para o Transtorno Bipolar I.

Diagnóstico Diferencial :  Os episódios Depressivos Maiores, Maníacos, Mistos e Hipomaníacos no Transtorno Bipolar I devem ser diferenciados dos episódios de Transtorno do Humor Devido a uma Condição Médica Geral.

O diagnóstico é de Transtorno do Humor Devido a uma Condição Médica Geral para episódios considerados a conseqüência fisiológica direta de uma condição médica geral específica (por ex., esclerose múltipla, acidente vascular encefálico, hipotiroidismo) . Esta distinção fundamenta-se na história, achados laboratoriais ou exame físico.

Um Transtorno do Humor Induzido por Substância é diferenciado de Episódios Depressivos Maiores, Maníacos ou Mistos que ocorrem no Transtorno Bipolar I pelo fato de que uma substância (por ex., droga de abuso, medicamento ou exposição a uma toxina) está etiologicamente relacionada à perturbação do humor.

Sintomas como os que são vistos em um Episódio Maníaco, Misto ou Hipomaníaco podem fazer parte de uma intoxicação ou abstinência de uma droga de abuso e devem ser diagnosticados como Transtorno do Humor Induzido por Substância (por ex., um humor eufórico que ocorre apenas no contexto da intoxicação com cocaína é diagnosticado como Transtorno do Humor Induzido por Cocaína, Com Características Maníacas, Com Início Durante Intoxicação).

Sintomas como os que são vistos em um Episódio Maníaco ou Episódio Misto também podem ser precipitados por um tratamento antidepressivo com medicamentos, terapia eletroconvulsiva ou fototerapia. Estes episódios podem ser diagnosticados como Transtorno do Humor Induzido por Substância (por ex., Transtorno do Humor Induzido por Amitriptilina, Com Características Maníacas; Transtorno do Humor Induzido por Terapia Eletroconvulsiva, Com Características Maníacas) e não contam para um diagnóstico de Transtorno Bipolar I.

Entretanto, quando o uso de uma substância ou medicamento não explica totalmente o episódio (por ex., o episódio continua de forma autônoma por um período considerável após a substância ser descontinuada) , o episódio conta para um diagnóstico de Transtorno Bipolar I.

O Transtorno Bipolar I é diferenciado do Transtorno Depressivo Maior e Transtorno Distímico pela história de pelo menos um Episódio Maníaco ou Episódio Misto durante a vida. O Transtorno Bipolar I é diferenciado do Transtorno Bipolar II pela presença de um ou mais Episódios Maníacos ou Episódios Mistos.

Quando um indivíduo anteriormente diagnosticado com Transtorno Bipolar II desenvolve um Episódio Maníaco ou Episódio Misto, o diagnóstico é mudado para Transtorno Bipolar I.

No Transtorno Ciclotímico, existem numerosos períodos de sintomas hipomaníacos que não satisfazem os critérios para um Episódio Maníaco e períodos de sintomas depressivos que não satisfazem os critérios sintomáticos ou de duração para Episódio Depressivo Maior.

O Transtorno Bipolar I é diferenciado do Transtorno Ciclotímico pela presença de um ou mais Episódios Maníacos ou Mistos. Se um Episódio Maníaco ou Episódio Misto ocorre após os 2 primeiros anos de Transtorno Ciclotímico, então Transtorno Ciclotímico e Transtorno Bipolar I podem ser diagnosticados em conjunto.

O diagnóstico diferencial entre Transtornos Psicóticos (por ex., Transtorno Esquizoafetivo, Esquizofrenia e Transtorno Delirante) e Transtorno Bipolar I pode ser difícil (especialmente em adolescentes) , porque esses transtornos podem compartilhar diversos sintomas (por ex., delírios grandiosos e persecutórios, irritabilidade, agitação e sintomas catatônicos), em especial transeccionalmente e no início de seu curso.

Em comparação com o Transtorno Bipolar, a Esquizofrenia, o Transtorno Esquizoafetivo e o Transtorno Delirante caracterizam- se por períodos de sintomas psicóticos que ocorrem na ausência de sintomas proeminentes de humor.

Outras considerações úteis incluem os sintomas concomitantes, curso prévio e história familiar. Sintomas maníacos e depressivos podem estar presentes durante Esquizofrenia, Transtorno Delirante e Transtorno Psicótico Sem Outra Especificação, mas raramente com número, duração e abrangência suficientes para satisfazerem os critérios para Episódio Maníaco ou Episódio Depressivo Maior.

Entretanto, quando todos os critérios são satisfeitos (ou se os sintomas têm importância clínica particular), um diagnóstico de Transtorno Bipolar Sem Outra Especificação pode ser feito em acréscimo ao diagnóstico de Esquizofrenia, Transtorno Delirante ou Transtorno Psicótico Sem Outra Especificação.

Se existe uma alternância muito rápida (em questão de dias) entre sintomas maníacos e sintomas depressivos (por ex., alguns dias de sintomas puramente maníacos seguidos por alguns dias de sintomas puramente depressivos) que não satisfazem o critério de duração mínima para Episódio Maníaco ou Episódio Depressivo Maior, o diagnóstico é de Transtorno Bipolar Sem Outra Especificação.

sábado, 6 de setembro de 2014

Nomofobia

As novas tecnologias tornaram a comunicação entre indivíduos tão fácil quanto o aperto de um ou dois botões. A facilidade de entrar em contato com outras pessoas e, ao mesmo tempo, de estar ao alcance delas traz inúmeras consequências, tanto positivas quanto negativas. Uma delas é a nomofobia, caracterizada pela angústia que um determinado indivíduo sente de estar impossibilitado de se comunicar através do telefone celular. A psicóloga Anna Lúcia Spear King, pesquisadora do Instituto de Psiquiatria (Ipub-UFRJ), determina quando esse receio passa de normal a preocupante. “Se a pessoa está longe de casa e volta somente para buscar o celular, ou se fica nervosa, com palpitações quando está sem o aparelho, há indícios de um transtorno de ansiedade que precisa ser observado”, afirma.
A especialista lembra que esta fobia não é exclusiva para dependentes do uso de celular. “Quando surge uma nova tecnologia, ela afeta o comportamento das pessoas. Aquele aparelho provoca uma mudança e temos que nos adaptar”, alerta Anna Lúcia. O nome deste transtorno vem da abreviação de termos em inglês “No-mobile” (sem celular), mas está associado também ao medo de ficar sem notebooks ou outros aparelhos portáteis de comunicação. O receio de ficar incomunicável é explicado pelos pacientes. “A principal alegação dos pacientes que sofrem deste mal é que eles podem passar mal na rua e, sem contato, ficariam sem socorro”, diz a especialista.
O tratamento da nomofobia é realizado através de sessões de terapia cognitiva comportamental. “Induzimos gradualmente sintomas que provocam pânico nos pacientes, demonstrando que são inofensivos”, explica Anna Lúcia, que complementa: “Assim, o paciente percebe que as situações que passa são normais e perde o medo”, conclui a psicóloga.
Serviço
O Instituto de Psiquiatria da UFRJ atende pacientes que sofrem desta fobia em seu Laboratório de Pânico e Respiração. O endereço do Ipub é Avenida Venceslau Brás, 71, Botafogo. Mais informações pelo telefone (21) 2295-3499.

sábado, 26 de julho de 2014

O Silêncio

O silêncio faz grande falta na civilização contemporânea.
Fala-se em demasia, e, por conseguinte, fala-se do que se não deve, se não sabe, não convém, apenas pelo hábito de falar.
Na falta de um assunto edificante, ou com indiferença para com ele, utilizam-se de temas negativos, prejudiciais ou sórdidos, envelhecendo a própria alma, enxovalhando o próximo e consumindo-se energias valiosas.
Há uma preocupação muito excessiva em falar, opinar, mesmo quando se desconhece a questão.
Parece de bom-tom a postura de referir-se a tudo, de tudo estar a par.
Aumenta, assim, a maledicência, confundem-se as opiniões, entorpecem-se os conteúdos morais das palavras.
Se cada pessoa falasse apenas o necessário e no momento oportuno, haveria um salutar silêncio na Terra.
Faze silêncio diante de observações pejorativas, de assuntos prejudiciais, matando, ao surgir, a informação malsã.
Quando te tragam opiniões infelizes, reclamações, queixas que põem mal diante de ti o ausente, seja ele quem for, não te deixes contaminar pelo morbo da palavra insensata.
Há pessoas que se autonomeiam fiscais do próximo e não se detêm a examinar a conduta, deste modo, reprovável.
Raramente, falam bem, referem-se ao lado bom das pessoas e dos acontecimentos.
Porque não era visível a antiga face oculta da lua, isto dava margem às mais variadas conjecturas, sempre exageradas, fantasistas.
Todas as pessoas possuem o seu lado oculto, certamente negativo em umas, quanto admirável noutras.
A observação sob alta dose de má vontade, apenas vê o que quer e fala o de que gosta.
Não opines mal a respeito de ninguém, mesmo que o outro mereça.
Tampouco, te deixes emaranhar pelos que falam mal do próximo. Eles terminarão por submeter-te à opinião que lhes apraz, armando-te contra aqueles com quem não simpatizam.
Falar bem ou mal é um hábito.
Quando as referências são acusadoras, levam a alma da vítima à morte, porém suicida-se também, aquele que sempre aponta o erro.
Usa o silêncio necessário.
Não a mudez caprichosa, vingadora. Mas a discreta atitude de quietação e respeito.
O silêncio faz bem àquele que o conserva.
Jesus calou muito mais do que falou. Os Seus silêncios sábios são o atestado mais expressivo do Seu amor pela humanidade.Pensa nEle, quando chamado a falar intensamente e imita-O.                                      

sábado, 5 de julho de 2014

O Complexo Materno Não Resolvido, No Homem, Causa Dificuldade No Relacionamento Com Sua Anima - Vanilde Gerolim Portillo

"Mãe é amor materno, é a minha vivência e o meu segredo. O que mais podemos dizer daquele ser humano a que se deu o nome de mãe, sem cair no exagero, na insuficiência ou na inadequação e mentira – poderíamos dizer – portadora casual da vivência que encerra ela mesma e a mim, toda humanidade e até mesmo toda criatura viva, que é e desaparece, da vivência da vida de que somos os filhos?"C.G. JUNG
Há casos em que o complexo materno tem uma influência velada, não sendo caracterizados como um desvio patológico propriamente dito, sua atuação é percebida de diversas formas e em diferentes fases da vida do homem, atrapalhando, senão impedindo, o seu relacionamento consigo mesmo e com outras pessoas.
O complexo materno, que é a idéia de mãe carregada de afetividade, existe em todos nós. O experimentamos como a necessidade de carinho, proteção e ligação. Se a experiência inicial que temos na vida, através da relação primal, for satisfatória e atender estas necessidades sentiremos que a vida é algo bom e que seremos amados e protegidos sempre. Se a nossa primeira experiência não foi boa, vamos nos sentir desligados de tudo e sem raízes.
 
A influência mais acentuada do complexo materno não solucionado, no homem, é a dificuldade que este encontra em relacionar-se com sua anima.
 
A anima é o arquétipo do relacionamento interno, ou seja, é responsável pelo contato do ego com o mundo interno e a qualidade deste contato determinará qual vai ser a qualidade do relacionamento do homem com o mundo externo, com as outras pessoas. É também, o arquétipo que representa o lado feminino no homem mas sua a principal função, segundo Jung, é a de instrumentar o homem, quando reconhecida, para seu autoconhecimento conduzindo-o no seu inconsciente, promovendo a relação entre seu ego e seu mundo interno. Portanto, o reconhecimento da anima é um fator decisivo do processo de individuação.
 
Mas afinal o que a anima significa na vida do homem? Porque é um arquétipo tão importante na psicologia masculina? A anima é a alma do homem, é o que lhe dá vida, é o que dá profundidade à sua existência, dá-lhe sabedoria, paixão e vontade de viver. É alma, porém não no sentido religioso que conhecemos e tentamos de todas as maneiras salvá-la das garras do inferno após a morte. A anima poderá ser o próprio inferno na vida de um homem ou poderá ser seu verdadeiro paraíso aqui na terra, basta entender seu significado e não abandoná-la.
 
Jung falou muitas vezes da anima e uma delas se pronunciou da seguinte maneira:- "A anima é um fator de maior importância na psicologia do homem, sempre que são mobilizados suas emoções e afetos. Ela intensifica, exagera, falseia e mitologiza todas as relações emocionais com a profissão e pessoas de ambos os sexos. As teias da fantasia a ela subjacentes são obra sua. Quando a anima é constelada mais intensamente ela abranda o caráter do homem, tornando-o excessivamente sensível, irritável, de humor instável, ciumento, vaidoso e desajustado. Ele vive num estado de mal-estar consigo mesmo e o irradia a toda volta. Às vezes, a relação do homem com uma mulher que capturou sua anima revela a existência da síndrome."
 
A anima é aquilo que o homem desconhece nele mesmo, se o que ele conhece é seu ego masculino o que desconhece é sua anima, seu feminino, Jung expressa-se, quanto a este aspecto, da seguinte maneira: "O que não é eu, isto é, masculino, é provavelmente feminino; como o não-eu é sentido como não pertencente ao eu, e por isso está fora do eu, a imagem da anima é geralmente projetada em mulheres."
 
A primeira mulher a receber esta projeção é a mãe, a influência exercida pelo complexo materno nesta fase decidirá sobre o sucesso ou insucesso na retirada desta projeção. O poder dominante da mãe poderá segurar a anima do filho numa relação infantil, sendo que  Jung diz o seguinte: "A figura da anima que conferia à mãe, na ótica do filho, um brilho sobrenatural é desfeita gradualmente pela banalidade cotidiana, voltando para o inconsciente, sem que com isso perca sua tensão originária e instintividade. A partir desse momento ela está pronta a irromper e projetar-se na primeira oportunidade, quando uma figura feminina o impressionar, rompendo a cotidianidade. "
 
A projeção é um mal necessário, pois somente podemos conhecer nossos conteúdos inconscientes quando projetados no mundo externo de maneira que podemos olhar e ver-nos como num espelho. Naturalmente, a dificuldade reside no reconhecimento de que as características que vemos são nossas, pertencem ao mais íntimo de nós mesmos. Esta dificuldade deverá ser vencida com o decorrer da vida e com a vontade consciente de voltarmos para nós mesmos em busca de respostas às nossas mais profundas dúvidas.
 
Em se tratando do homem em geral, ou seja, aquele que não apresenta distúrbios sérios identificados dentro da estreiteza da psicopatologia, vamos encontrar aspectos também desastrosos quando possuído pela anima inconsciente. Suas projeções são carregadas de animosidade, e atribui facilmente à mulher, enquanto companheira, suas próprias indisposições e seu mau humor, características de uma anima insatisfeita. A mulher que era uma deusa se transforma em bruxa com a maior facilidade.
 
Jung salienta que a manifestação do arquétipo da anima se dá de diversas formas, nas experiências amorosas são bastante significativas; "Nas experiências da vida amorosa do homem a psicologia deste arquétipo manifesta-se sob a forma de uma fascinação sem limites, de uma supervalorizaçã o e ofuscamento, ou sob a forma da misoginia em todos os seus graus e variantes, que não se explicam de modo algum pela natureza dos "objetos" em questão, mas apenas pela transferência do complexo materno. No entanto, este é criado primeiro pela assimilação da mãe – o que é normal e sempre presente – a parte feminina do arquétipo preexistente de um par de opostos "masculino-feminino " e , secundariamente, por uma demora anormal a destacar-se da imagem primordial da mãe."
 
O modo mais visível que temos para observar a projeção da anima é no ato de apaixonar-se, que é valioso para a aproximação dos sexos e com isso dar inicio a um relacionamento, porque somente através do relacionamento com o outro é que conseguimos desenvolver e integrar nossos aspectos inconscientes. O apaixonar-se, para o homem, consiste na projeção de sua anima numa mulher e fascinar-se pelo que vê. Entretanto, o relacionamento do homem com a mulher amada não será melhor do que seu relacionamento com sua própria anima.
O relacionamento entre homem e mulher requer habilidade, disponibilidade, interesse mútuo e muito trabalho, isto tudo implica em amadurecimento de várias instâncias psíquicas inclusive e principalmente, no caso do homem, da anima.
 
A anima inconsciente prejudica o homem não só nas suas relações amorosas, mas também em outras relações como o trabalho, por exemplo. Não é raro observarmos certos comportamentos em homens de negócios, executivos aparentemente fortes, que sem mais nem menos se sente atacados por estados emocionais que o dominam descaracterizando totalmente sua persona. Seu comportamento torna-se bizarro, e o homem aparentemente forte transforma-se num garoto birrento de palavras fúteis. É o verdadeiro filhinho dominado pela mãe.
 
Segundo Jung, até a metade da vida, mais ou menos 35 anos, o homem não necessita estar conectado com sua anima, porque deverá estar voltado para o mundo externo procurando atingir objetivos materiais, após a meia idade no entanto, o homem não consegue ter uma vida tranqüila se não se ligar à sua anima, diz ele:- "Depois da metade da vida, no entanto, a perda permanente da anima significa uma diminuição progressiva da vitalidade, flexibilidade e humanidade. Em geral, disso vai resultar uma rigidez prematura, quando não uma esclerose, estereotipia, unilateralidade fanática, obstinação, pedantismo ou seu contrário: resignação, cansaço, desleixo, irresponsabilidade e finalmente um ramolissement infantil, com tendência ao alcoolismo. Depois da metade da vida deveria restabelecer- se, na medida do possível, a conexão com a esfera da vivência arquetípica."
 
Na meia idade, quando o homem encontra-se no auge de suas realizações masculinas, ele experimenta com mais intensidade seus complexos e possessões pela anima. Uma depressão, característica desta fase, poderá vir acompanhada de uma voz interna que o acusa de tudo o quanto ele não realizou, aponta seus pontos fracos no que se refere às suas emoções e sentimentos internos. Essa voz, ou este pensamento, diz Sanford, "personifica a anima que se tornou absolutamente amarga e tenebrosa" por ter sido, até então desconsiderada e deixada de lado. Continua Sanford: "Ela é a imagem viva do fracasso do homem ao lidar com o outro lado de sua vida – o lado feminino, o lado espiritual, o lado da alma. Ela se mostra tenebrosa e monstruosa em proporção direta com o sucesso exterior do homem e com a negação interior das coisas da alma."
 
Um homem que não consegue expressar seus sentimentos e dar expressão à sua anima, se transformará numa pessoa ressentida e mal humorada. Diz SANFORD: "Um homem que vive sempre evitando encontros de cunho emocional com outras pessoas é dominado pela Mãe. Uma das formas de ele se libertar de seu complexo de Mãe consiste em expressar-se através do relacionamento. "
 
Quando um homem não expõe seus sentimentos porque tem medo da mulher brigar com ele, está regredindo a um estado anterior infantil, quando sua mãe, muito provavelmente fortemente dominante e manipuladora, mostrava-se zangada e descontente com seu comportamento. O medo que o homem sente é o da rejeição que um dia já foi experimentado através da zanga da mãe. O homem precisa desvencilhar- se do complexo materno, vivenciando- o plenamente pelo relacionamento. Caso contrário, ele será sempre o menino que encolhe os ombros perante uma mulher. O homem precisa ajudar a si próprio, salienta Sanford: "Isto significa que ele tem de descobrir e ajudar o meninozinho que existe dentro dele. Ao reconhecer o seu lado de meninozinho magoado, fica muito menos exposto a se identificar com ele, e pode conservar-se mais como homem que deve ser no relacionamento com a mulher em sua vida."
 
Para o homem, um comprometimento no desenlace do complexo materno, inevitavelmente acarretará uma dificuldade no reconhecimento de sua anima e, portanto, dificuldades em relacionar-se com outras pessoas e com ele mesmo. O homem sente-se inseguro, porque não consegue controlar suas emoções, sente-se deprimido e é assolado, constantemente, pelo mau humor, sendo todos esses efeitos característicos de uma anima inconsciente, mal entendida.
 
Para o reconhecimento da anima e sua conseqüente integração na consciência, o homem em dificuldades, necessita primeiramente livrar-se dos resquícios do um complexo materno mal resolvido. A anima mesmo atuando negativamente poderá abrir caminho para que o homem se liberte do complexo materno, basta para isso dar importância aos seus sentimentos. Uma vez liberto de seu complexo materno, poderá relacionar-se adequadamente com sua anima.
 
O homem deverá, então, dar ouvidos à sua anima e não evitá-la, deverá vivenciar este estado profundamente e não fugir dele através de subterfúgios como drogas, bebidas, separação da esposa, etc. Estes são artifícios enganosos que não o ajudarão em nada a encontrar o caminho da realização. Se o homem aceitar estas suas indisposições e usar a auto-reflexão, sua anima reconhecida se tornará uma grande aliada no caminho da individuação. Quanto mais ignorados forem os lados negativos das figuras internas, no caso, a anima, mais fortemente eles atuarão provocando resultados indesejáveis.
 
Uma maneira de que o homem dispõe para manter um primeiro contato com sua anima é reconhecer o problema que lhe afligi como seu mau humor, a insatisfação, suas fantasias, o que significa reconhecer as projeções tornando-as conscientes. A anima inconsciente usa vários recursos para se manifestar e com isso obter atenção, o mais freqüente é encher a cabeça do homem de fantasias sexual-erótica, o homem neste estado, envolve-se num auto-erotismo e passa a interessar-se por filmes, livros revistas pornográficas e outros, demonstrando uma postura infantil perante a sexualidade.
 
O homem poderá libertar-se de sua anima nociva quando aprende a lidar com os seus sentimentos e expressá-los através do relacionamento com os outros. Sanford diz que: "Desta maneira ele escapa da Mãe e desenvolve seu lado Eros"
 
A anima, dizia Jung, "é o arquétipo da vida" e um homem sem relacionar-se com o seu mundo interior terá uma vida sem criatividade, sem emoção, poderá até obter grande sucesso, porém ficará sempre insatisfeito, sentindo um vazio interior. A anima, além de mediadora, alerta o homem para a busca de sua verdadeira essência. É a alma do homem e dá a ele ânimo para lutar e coragem para enfrentar os sofrimentos da vida.
 
O desenvolvimento da anima passa por quatro níveis, segundo observa Jung, que não ocorrem, necessariamente, um após o outro e estão representados simbolicamente da seguinte forma: O primeiro estágio simbolizado na figura de Eva, como mulher primitiva e induz um relacionamento instintivo e biológico; o segundo estágio pode ser representado por Helena de Fausto, ela representa as mulheres também num sentido erótico porém mais ligadas ao romântico e especialmente atraentes; o terceiro estágio fica bem exemplificado pela Virgem Maria que é uma forma espiritualizada e sacralizada da anima e, por último, um estágio em que a anima está simbolizada pela sabedoria e manifesta-se sob a forma de uma mulher divina, pela Sapiência que transcende a santidade. Estes estágios são normalmente observados em sonhos, contos de fadas, mitos e na literatura. Embora o quarto estágio é o estágio ideal do desenvolvimento, os Junguianos concordam que é praticamente impossível de ser alcançado. No entanto, com esforço e dedicação o homem poderá obter um grau de desenvolvimento bastante satisfatório em relação à sua anima.
 
Uma importante característica gerada no complexo materno é o medo que o homem desenvolve do Feminino e que dificulta consideravelmente o desenvolvimento da anima. Este medo tem origem na primeira fase de diferenciação do ego quando o ego-herói é afugentado pela Mãe Terrível que ao mesmo tempo lança seus tentáculos na tentativa de reter o filho.
 
Sobre o medo do Feminino, NEUMANN diz: "O medo patológico que a criança tem do feminino, a "bruxa" do verdadeiro complexo materno, faz um contraste com seu medo normal ligado à transição para o desenvolvimento. Esquematicamente, podemos distinguir três formas principais de expressão deste complexo. A primeira é a prisão do ego pela "Mãe", evitando assim a progressão necessária ao desenvolvimento. A segunda, é que há uma tendência regressiva no ego, isto é, uma perturbação do ego da criança na qual a tendência progressiva não é suficientemente forte ou foi desviada por uma tendência instintiva, regressiva, a sair em busca da fase matriarcal. Em terceiro lugar, porém, pode estar presente uma constelação na qual um desenvolvimento já realizado, progressivo, do ego é destruído."
 
O medo do Feminino é visivelmente observado na violência do homem em relação à mulher. Não conseguindo relacionar-se com o seu Feminino interno, sua anima, porque está bloqueada pelo medo enraizado nas entranhas do complexo materno, ataca a mulher como defesa. É o poder em detrimento do amor, porque onde domina o poder não há espaço para o amor.
Outra maneira que o homem tem para expressar seu medo do Feminino é fugindo de seus próprios sentimentos uma vez que eles são vistos como características próprias das mulheres. Agindo assim, afastam-se de sua própria anima ficando alienados dentro deles mesmos. Este pavor do Feminino também é percebido através das críticas que os homens recebem de seus companheiros se demonstrarem fraquezas, muitos são capazes de afastarem-se por medo de verem-se refletidos no medo do amigo.
 
Outro medo que vem do complexo materno, em relação ao Feminino, é instalado com a ajuda da figura paterna. Embora não tenha sido enfatizada a importância do papel do pai no desenvolvimento infantil, não significa que sua imagem arquetípica e sua presença real sejam menos importantes no desenvolvimento do menino do que o papel da mãe. O pai tem um papel importante em todas as fases de desenvolvimento do menino. Na transição do matriarcado para o patriarcado, por exemplo, desempenhará uma função de equilíbrio para a força poderosa da mãe. Sua postura e suas condições psicológicas, sendo adequadas, poderão servir como incentivo ao crescimento do filho funcionando como uma ponte que ajudará o menino a transcender do mundo da mãe para o mundo do pai. Se, ao contrário, for um pai ausente tanto fisicamente quanto psicologicamente o menino poderá permanecer preso à mãe.
 
Como vimos, o ego entra em luta contra o dragão para obter sua própria libertação, uma outra luta, no entanto está prevista e se dará para, desta vez, resgatar o Feminino, representado pela anima, que ficou preço à mãe. A anima significa o Feminino enquanto transformação é um novo rumo a um novo destino desconhecido. Tudo o que é novo e transformador é excitante, mas gera medo. O medo que o ego enfrenta desta vez é o medo do Feminino independente. Neumann salienta que este medo do desconhecido é causado pela insegurança do ego que ficou preso ao mundo da mãe, diz ele: "Todas as vezes que o desenvolvimento do ego masculino é perturbado e que ele não alcançou a independência, por exemplo, quando seu ego permaneceu infantil em virtude de uma fixação na mãe e não alcançou a "combatividade" necessária ao ego heróico – cada exigência de "transformação" , cada exigência de desenvolvimento rumo a algo desconhecido e distante de tudo que proporciona segurança, é respondido com medo e na defensiva."
 
O pai agora, também tem um papel especial, se for influenciado por um complexo materno, poderá reagir violentamente contra este, demonstrando seu medo terrível do feminino, deixando, assim, de ser um modelo saudável para o filho na sua relação com o feminino. O medo que o menino sente do feminino e que perpetuará por toda sua vida se não analisado, também é responsabilidade do pai, ou seja, de como o pai age em relação ao seu próprio feminino.
 
A raiva que muitos homens sente de suas mulheres é, em alguns casos, resultado de abuso infantil, no entanto, a maioria das vezes os casos não se ajustam a este perfil, mas aparece como conseqüência de excesso de amor materno e falta de amor paterno. A mãe prende o filho e o pai não o ama suficientemente para ajudá-lo a sair do mundo da mãe. A dor gerada por este sufoco e abandono é profunda e quando adulto, o homem, não consegue voltar para si mesmo com medo de vivenciar novamente esta dor, então sua relação com os outros se torna insuportável porque vê o outro como fonte de sua dor.
 
O medo do Feminino no homem adulto é provocado pelo complexo materno e também pelo complexo da anima. Se o homem estiver preso a um complexo de anima a solução, apesar de trabalhosa envolve uma camada mais recente da psique, é portanto mais fácil de ser atingida, enquanto que se ele estiver preso a um complexo materno que é mais profundo, a solução será conquistada com muito mais trabalho. Todas as arestas e resquícios do domínio da mãe deverão ser reavaliados se o homem desejar trilhar o caminho da individuação.
 
Individuar-se é conhecer a si mesmo tão profundamente que todos os seus conteúdos mais escondidos do inconsciente terão oportunidade para se expressarem na consciência. É uma perfeita integração de inconsciente e consciente.
 
O homem só poderá enveredar-se por este caminho se sua principal guia, a anima, estiver sendo reconhecida, atendida e respeitada.
 
Se ela estiver deformada, atuando inconscientemente, não conseguirá exercer sua principal função que é iluminar o caminho do mundo interno.
 
 
A mãe e a relação primal é a base do desenvolvimento humano. A qualidade do relacionamento mãe-filho nos primeiros meses de vida determina como aquele pequeno indivíduo vai se conduzir no mundo durante toda sua vida. A segurança, a proteção, a ausência de medo e o vínculo afetivo estabelecido nesta fase farão parte da verdadeira base da existência humana.
 
Qualquer desordem emocional ou física que venha abalar a base que dá sustentação ao bebê poderá destruir-lhe a capacidade de desenvolvimento fixando-o sob o domínio arquetípico materno.
 
O complexo materno que remonta a fase mais infantil e primitiva do ego atrapalha ou impede o desenvolvimento integral e a individuação no homem, uma vez que interfere no reconhecimento da anima que é o arquétipo guia do inconsciente.
 
Quando ativado e inconsciente o complexo materno fixa o homem na mãe e o impede de seguir adiante em busca de sua realização pessoal. Deforma sua visão de mundo e o deixa vivendo somente na superfície do seu eu consciente. Interfere em suas relações com outras pessoas, principalmente do sexo oposto e impede a projeção adequada de sua anima.
 
A anima quando subdesenvolvida pode levar o homem para longe da realidade, manifesta-se negativamente na sua personalidade fazendo com que se sinta irritado, depressivo e o leve à apatia. Nada para o homem neste estado está bem, a anima faz dele um sentimental, sensível, melindroso. Torna-o um tipo afetado que tudo e a todos critica, falta-lhe autonomia, sente-se impossibilitado de relacionar-se adequadamente com uma parceira e muitas vezes o seu desenvolvimento profissional fica aquém de sua capacidade.
 
O segredo para o homem que tem dificuldade de relacionamentos tanto externos quanto internos é buscar as raízes, ouvindo sua voz interna e manter com ela um diálogo honesto, ser humilde e reconhecer que está atolado na vida e na mãe.
 
É impossível eliminar totalmente o complexo materno, porém perderá sua energia na medida em que for vivenciado plenamente e seus componentes forem integrados ao consciente. Ao vivenciar as fantasias e imagens que emergem do complexo, o homem estará construindo uma ponte para o seu inconsciente e dará oportunidade para que sua anima se expresse adequadamente, exercendo sua função de guia.
 
Embora, ficou demonstrado que a mãe pessoal não deve ser a única responsável pelo desenvolvimento do filho e que o complexo materno não pode ser resolvido reduzindo-o unilateralmente à mãe humana porque, se assim o fosse, estaríamos desconsiderando a existência dos arquétipos, não devemos, no entanto, ignorar que suas atitudes e sentimentos ao lidar com a criança ocupam lugar de destaque. Muitos problemas poderão ser desencadeados a partir do comportamento da mãe independentemente de serem conscientes ou não. Sabemos ser impossível exercermos controle sobre o nosso inconsciente, porém, quanto às atitudes conscientes maternas, estas sim, poderiam ser balizadas e refletidas, com o objetivo de preservar a unidade psicológica do filho. Um filho não deverá ser uma válvula de escape, nem tampouco uma tábua de salvação para mães impedidas de se relacionarem adequadamente com seus parceiros. Deverá ser antes de tudo a oportunidade para que a mãe, enquanto feminino, exerça sua principal função neste mundo que é gerar e fazer crescer nova vida. Se o homem deseja sua evolução deverá reconhecer que o inimigo está dentro dele e não fora. Precisa lutar e desvencilhar- se da dependência dos pais pessoais, senão estará fadado a ver seus relacionamentos externos desmoronarem- se e impossibilitado de contato com o seu mundo interno. Ficará preso para sempre no mundo infantil. O preço mais alto, no entanto, que pagará por não examinar seus medos e não se livrar do complexo materno será o sacrifício de sua própria alma.
 
A cura do homem ferido pelo complexo materno depende primeiro da observação do efeito do seu complexo materno atuando dentro dele. É preciso coragem, paciência, perseverança e boa vontade para lutar com um mal tão profundo. A humildade e resignação para resgatar as projeções também devem estar presentes e a mais importante de todas as tarefas será o desenvolvimento da capacidade de relacionar-se com sua anima com seu lado feminino que o levará a uma viagem surpreendente pelo inconsciente em busca do encontro com o Si-Mesmo.