Na hora de ter prazer vale tudo, desde que todo mundo em jogo também esteja de acordo com a brincadeira. Entenda a livre expressão da sexualidade dos praticantes de BDSM.
Se
antigamente práticas como o sadomasoquismo eram vistas com maus olhos e
odiadas pelos puritanos, hoje em dia nos deparamos com um erotismo mais
diversificado, com uma proliferação de grupos considerados “minorias
sexuais” devido ao tipo de prática sexual ou à sensação de prazer que
adotam.
Práticas sexuais qualificadas como violentas ganham
lugar, visibilidade, aceitação e acessórios – ao menos em sex-shops,
cada vez mais comuns. Toda essa parafernália e divulgação funcionam
como uma comprovação: as pessoas, sim, buscam novas alternativas
eróticas que transgridam as restrições impostas pela sexualidade como
exercício da reprodução.
São os amantes da pornografia, quando
o conceito é entendido como “expressões escritas ou visuais que
apresentam, sob a forma realista, o comportamento genital ou sexual com
a intenção deliberada de violar tabus morais e sociais”, explica Maria
Filomena Gregori, professora do IFCH/UNICAMP e pesquisadora do Núcleo
de Estudos de Gênero – PAGU, em seu artigo “Prazer e Perigo: Notas
Sobre Feminismo, Sex-Shops e S/M”, in Sexualidade e Saberes: Convenções
e Fronteiras (Ed. Garamond Universitária) .
Os praticantes desse
tipo de sexo socialmente não valorizado procuram transgredir as
restrições que impedem o livre exercício da sexualidade.
BDSM
A
sigla acima significa “Bondage (as técnicas de imobilização),
Disciplina, Sadismo e Masoquismo”. No dicionário, sadomasoquismo é
definido como perversão sexual, sempre com a ideia de pessoas
envolvidas em um comportamento coercitivo ou abusivo.
Mas, para
quem pratica, o BDSM é um jogo erótico de poder e não um abuso físico.
Os participantes de encontros e casas fechadas para quem adora a
brincadeira frisam que as práticas se dão em meio a um contexto de
segurança e são estruturadas a partir da negociação e comunicação entre
as pessoas envolvidas. São encenações quase teatrais.
“São,
seguro e consensual”: esse é o grito de guerra dos adeptos dessa
prática e mostra, para quem taxa essas relações com preconceito, que
tudo é feito com muito cuidado. Susan Wright, diretora política da NCFL
- National Coalition for Sexual Freedom (Coalisão Nacional pela
Liberdade Sexual) define o que cada uma dessas três palavras
representam:
- São: saber diferenciar entre
fantasia e realidade. Vale lembrar que o consentimento consciente não
pode ser dado por uma criança (por isso só brinca quem é adulto) ou por
alguém que esteja sob efeito de álcool ou drogas.
- Seguro:
conhecer as técnicas e preocupar-se com os itens de segurança que estão
envolvidos no que você está fazendo. É também a responsabilidade de
proteger você mesmo e seu parceiro das Doenças Sexualmente
Transmissíveis (DST), incluindo a infecção pelo vírus do HIV.
- Consensual:
respeitar os limites impostos por cada um dos participantes durante
todo o tempo. Alguns usam uma palavra de salvação (safeword), que é uma
palavra escolhida para sinalizar que a cena deve diminuir de
intensidade ou parar. O mesmo comportamento pode ser criminoso sem o
consentimento e muito prazeroso com o consentimento.
A arquiteta
L.M., 36 anos, pratica o jogo há oito meses. Mãe de dois filhos, casada
com um engenheiro químico, ela participa de encontros quase toda
semana. “A gente brinca com o que nos dá prazer. Todas as práticas são
consensuais e é isso que faz a excitação funcionar. O lugar é cheio de
donas de casa, professoras, advogadas. Não somos seres bizarros ou de
outro planeta. Apenas defendemos o uso livre da sexualidade, sem ter
que se encaixar dentro do que é considerado ‘normal’”, conta ela.
5 características presentes na maioria das interações sadomasoquistas
- Dominação e submissão: a presença de regras de um parceiro sobre o outro e de obediência de um parceiro a outro;
- Consensualidade:
o acordo voluntário para participar do jogo (interação) sadomasoquista
e o respeito a certos "limites" (as regras fundamentais de como e em
que direção o jogo progride);
- Conteúdo sexual: o pressuposto de que as atividades têm um significado erótico ou sexual;
- Interpretação mútua:
a suposição de que os participantes possuem o entendimento partilhado
de que suas atividades são de natureza SM (sadomasoquista) ou similar;
- Role playing: os participantes assumem papéis para a interação (jogo) ou para o relacionamento, que eles reconhecem não ser a realidade.
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